17 de outubro de 2009

Cheiro de Pipoca

Texto que comecei rabiscar dentro da igreja Nossa Senhora da Aparecida, no último dia 12 de Outubro, enquanto o céu chorava lá fora, enquanto algumas pessoas cantavam uma oração, enquanto eu fazia plantão de repórter e esperava o fotógrafo ir me buscar. Enquanto aquela imagem de perna ferida em cima de uma poça de sangue não saía da minha cabeça.

Igreja tem cheiro de pipoca. Isso é fato. Lembro de quando era criança e contava os minutos (que mais pareciam horas) para que a missa de domingo acabasse logo para que, enfim, comesse a pipoca.
Minha mãe sempre reclamava que meu pai enchia agente de besteira comprada na rua.
_Deixa, quando eu chegar em casa eu faço pra vocês.
Mas meu irmão e eu chorava, esperneava e papai acabava comprando um saquinho de pipoca de sal pra gente. Não sei por que, mas mesmo que murcha e sem sal, pipoca de carrinho em frente à igreja é sempre mais gostosa que feita em casa.
Agora olhando todas essas velas tentando sobreviver ao vento úmido, me lembro bem... Eu era um anjinho de procissão e gostava de ir brincando com a parafina derretida da vela e comendo pipoca de sal, de doce, e de parafina. Me queimava toda, mas não importava, achava bem melhor brincar com parafina derretida, que acompanhar a cantoria sem ritmo daquelas mulheres da procissão.
Naquela época, lembro que todos me comparavam com um anjinho de verdade (como se alguém já tivesse visto uma). Acho que por causa dos cachinhos que herdei de meu pai.
_Que gracinha! Com esses cachinhos parece mesmo um anjinho!
Anjos. Daí, vejo todas essas crianças vestidas de anjos de Nossa Senhora e fico me perguntando se existe mesmo essas criaturas que protegem as pessoas. Fico me perguntando onde estava o anjo, ou o que estava fazendo naquela hora do acidente.
Tantas vidas, tanta gente. Umas passando por outras despercebidas, com seus pensamentos íntimos, ou tentando descobrir, assim como eu, o que se passa na cabeça de cada uma dessas pessoas que entram constantemente na igreja e fazem o ritual até a santa de barro: toca, sinal da cruz, se vira e vai embora com a cabeça baixa.
Umas passando pelas outras sem se preocupar com elas, se martirizando apenas nos seus próprios problemas.
Feriado, o dia ensolarado, mas que de repente se fechou e entrou em fúria. Ficou vermelho, coberto de poeira, ventou e choveu. E assim foi até o fim do dia. Mas antes que se enfurecesse um anjo dormiu. Mas a pessoa que ele guardava levantou cedo neste dia 12 para trabalhar. Era "mototaxista", e devia ser de família humilde. Não sei se tinha mulher e filhos. Mas que importa agora? Acho que um mototaxista só trabalha dia de feriado se precisa mesmo de dinheiro. Se ele tivesse ficado em casa. Dormido até mais tarde como o resto da cidade, talvez o destino não teria sido tão trágico. Sim, o destino:
Alguém deve ter ligado na central de mototáxi e pedido uma moto. Ou ligou direto no celular desse mototaxista, ou acenou na rua quando ele passava. Esse alguém devia ter um compromisso bem naquela hora, ou talvez mais cedo ou mais tarde. Mas foi justo naquela hora que eles se encontraram. E o caminho desses dois cruzou com um homem  que voltava da fazenda. Este homem devia estar distraído demais falando com o amigo do lado, ou saiu mais cedo que o previsto. Ou quem sabe perdeu a hora.
O caminho deles se cruzaram naquele cruzamento, em frente ao parque de exposições da cidade, no mesmo instante.
E de certo, nessa hora, um anjo dormia. E o homem acelerava sem ver que um carro corria na sua direção.

Cheguei alguns minutos depois. A tempo de ficar com aquela imagem na minha cabeça:
A perna dele abriu um ferimento, ele desmaiou, e tudo parecia querer sair pra fora. O sangue fez poça, e a primeira reportagem de acidente que eu presenciei ficou o dia todo me perturbando, rendendo pensamentos, rendendo reflexão sobre a vida, os anjos, o destino, as pessoas. Rendeu um conto com cheiro de pipoca.

9 de outubro de 2009

Sem sobrenome



Ficou olhando todos aqueles flash`s que piscavam constantemente no salão lá fora. Estava bem ali atrás da cortina, esperando a Renata anunciar o nome que tanto foi falado durante aquela semana. Ela, já havia perdido, sabia que não tinha mais chance, não ficara nem entre as Top 10. Olhava, sem reação, sem querer chorar ou sorrir. Ali, já era o bastante pra Lorena. Lembrava-se daquelas mesmas mulheres de beleza estereotipada, porém que ela assistia vidrada na tela da televisão em preto e branco da sua casa quando ainda era pequena. Ficava ali, sentada no chão enquanto aquelas mulheres desfilavam pelas passarelas com seus vestidos reluzentes, cheios de paetês e vidrilhos, com seus cabelos partidos de lado de onde saia um topete. Que lindo era aquele topete, e como ficava bem com aquela coroa de strass. Andavam com uma das mãos na cintura se equilibrando em cima de sandálias cada uma mais alta que a outra; mais linda que a outra. Com suas faixas nos ombros, e seus brincos que de tão pesado puxavam a orelha, mas que eram todos brilhantes. Os sorrisos, sempre os mesmos, estampado na cara de cada uma delas. Lembra-se quando ela virava pra mãe e dizia "um dia também vou ser Miss”. E todo mundo falava, todo mundo criticava, afinal a sociedade daquela época e, até mesmo de hoje, manteve o estereótipo de que toda Miss é "cabeça de vento", só sabem sorrir, só sabem desfilar, e dizer sempre que o livro predileto é o "Pequeno príncipe", e que todos os dias “oram a Deus pela Paz Mundial". Queria ser Miss e também queria mostrar que tinha muito mais que beleza. Mas se lembrava o quanto tudo foi tão difícil... A primeira tentativa, o fracasso... A segunda tentativa, mais outro fracasso... A terceira tentativa, e finalmente ela consegui a faixa na sua cidade. O sonho passou a ir mais além, Lorena queria a faixa estadual. Mas não teve apoio, não tinha dinheiro, não tinha ajuda. Havia chegado até aqui por conta própria, mas dali em diante, era crucial que tivesse alguma ajuda financeira, afinal era de família humilde, trabalhava o dia todo para ganhar algum dinheiro para conseguir ajudar a mãe com as despesas de casa. Enquanto todas as candidatas se preparavam com próteses de silicone, cirurgias plásticas, alongamentos, massagens, botóx, etc; Lorena ralava batendo de porta em porta para conseguir juntar a grana para pagar a inscrição do concurso. E agora estava ali, no concurso. Quem estava dentro da televisão vestindo um maiô um pouco mais moderno era a própria Lorena. Só que não era nem finalista. Sua beleza parecia triste, ou pelo menos sem entender o que estava acontecendo. Na verdade ela até sabia o que acontecia, apenas não queria dar ouvidos ao falatório maldoso. Todos já sabiam o nome da vencedora, ou melhor, o sobrenome dela. Afinal, podia não ser a mais bonita - não desmerecendo sua beleza - mas era a mais rica, foi o pai dela quem patrocinou a maior parte do concurso, foi ela que um dos mais importantes jurados treinou durante dois anos. O restante dos jurados, eram os políticos e empresários daquela cidade da onde a suposta vencedora representava. Mas Lorena não quis acreditar em uma só palavra, em um só comentário, em um só olhar. Preferiu observar para ver como seria na hora. Então, Lorena ficou lembrando do quanto ela treinava sua passarela em casa, das aulas de etiqueta que a amiga propôs a ministrar pra dar uma força, do dia que chorou na frente de vereadores da cidade porque não tinha o dinheiro da inscrição, daquela moça que apareceu uma semana antes do concurso e que se propôs a ajudar e colocar seu nome na mídia. Mas os pensamentos de Lorena foram interrompidos por vaias. Ela levantou os olhos, e tirou aquela mexa ondulada de cabelos da frente do rosto, era Renata, anunciando o nome que tanto já tinha sido falado. Era Débora correndo em sua direção para a coxia, diante de tantas vaias. _ O que aconteceu? _ Eu ganhei _Volta... você tem que receber a coroa _ Eles estão vaiando em coro: "marmelada" _ Mas você já sabia... Enquanto isso, não perceberam que Renata chamava por Débora para receber a faixa. Ela retornou ao palco, e Lorena ao seu mundo. Um mundo sem flashs, sem brilho, sem glamour, sem coroas e faixas. Um mundo sem sobrenome.
Qualquer semelhança com a realidade, deve ser mera coincidência.

16 de setembro de 2009

Rotina

Olhava pra ela, desenhando sua face, tentando reconhecer aquela mulher que estava ali, adormecida na cama. Não tinha culpa, mas assim dormindo parecia que ela ainda tinha aquele encanto e magia. Parecia que a qualquer momento quando ela acordasse, ela ia lhe dar um sorriso dócil e meigo, e ele ia sentir de novo, aquele arrepio na pele, o coração disparar, e a face enrubescer. Mas não. Alexandre sabia que tudo ia ser como era antes dela dormir.
Ficou ali olhando por mais algum tempo, e logo percebeu que em outras épocas, como gostava que acariciar o rosto enquanto Marcela dormia. Às vezes, ele acordava do nada durante as madrugadas, e se deparava com ela, dormindo e sonhando, igual estava ali agora, parecendo um anjo, tão vulnerável, e tão delicada. Gostava de passear os dedos entre seus cabelos ondulados e desfazer cada cacho que tinha nas pontas, fazendo um cacho virar dois, dois virarem quatro, quatro oito... E ela sempre dava um leve sorriso, ainda com os olhos fechados, aconchegando a cabeça na palma da sua mão.
Como parecia mágico, quando ele ficava esperando o fim de semana chegar, para finalmente vê-la. Enquanto isso ligava pra ela todos os dias, quando na verdade dava vontade de ouvir sua voz todas as horas, e não desligar o telefone. Falavam como havia sido o dia um do outro, contavam os mínimos detalhes, e preocupavam-se um com o outro. Agora mal se falavam enquanto moram juntos. O pouco de conversa, não passava de “Onde você deixou o controle da tv”, ou “hoje é você quem lava as louças”.
E antes, quando se encontravam na sexta feira, se beijavam arduamente, como se fosse a primeira e última vez, e sempre acabavam na cama, fazendo amor. Amor, quantas vezes fossem necessárias para satisfazer a saudade, a qualquer hora, em qualquer lugar, todos os dias.
Agora, não existe mais amor, apenas satisfação. A compra da nova cama de casal, apenas serviu para deixarem de dormir abraçados como faziam quando ela ia dormir na sua casa na cama de solteiro. Agora quanto mais longe do outro, melhor. Havia acabado, e eles quase não perceberam quando encanto começou a se quebrar. De repente ele abriu os olhos e viu que Marcela tinha defeitos, que ele não gostava mais como ela se vestia, como ela tratava as pessoas, sua família, que ela não lhe parecia mais tão atraente... E tudo foi se perdendo... A princesa agora era apenas uma pessoa comum, uma plebéia no meio de tantas outras, não se destacando, se perdendo na multidão, apenas passando por sua vida...
Era triste, e ele ficou triste porque ainda gostava muito dela. O que ele queria é que tudo fosse como antes e os dois voltassem a se interessar um pelo outro. Pensou em acordá-la como uma dia ela fizera, com um beijo molhado e cheio de desejo. Pensou em como seria bom fazer e sentir amor agora, e descobrir que tudo não se passava de engano, e que estava apenas adormecido dentro de cada um deles. Tocou seus lábios com a ponta dos dedos, roçando levemente pra lá e pra cá. Marcela abriu os olhos e apenas perguntou com os olhos quase fechados.
_ Por que não volta a dormir? Amanhã temos que nos levantar cedo para o trabalho.

19 de agosto de 2009

Beijo

Pareciam duas crianças. Brigavam e brincavam. A hora era inoportuna, e exigia atenção de ambos. Mas não, preferiram ficar implicando um ao outro com piadinhas e insultos bestas. Faziam caretas. Mentiam, e riam.
Ela tentava não pensar em nada, e aproximar, sentir sua respiração e sem perceber que a sua também estava mais ofegante. Olhava pra frente, mas não conseguia assimilar as palavras ditas por alguém lá na frente. Não sabia ou não queria saber o que estava acontecendo ali, dentro dela. Como se voltasse a adolescência, e como se também observasse de longe ela mesma. Talvez igual aqueles desenhos que assistia quando criança, quando tinha um diabinho e um anjinho, um encorajando e outro repreendendo. E o diabinho e o anjinho viram. Um sorrindo e outro com feição de preocupação. Como se estivessem gravando e assistindo em câmera lenta, o atrevimento do rapaz, e a cara que ela fez. (Ela sentiu seu rosto quente, talvez estivesse vermelho...)
Besteira, bobagem, coisa de criança.

24 de julho de 2009

Amores Platônicos VI

Ela sorria. Sorria e brincava com alguém rindo-se mais ainda. Seus gestos pareciam soar lentamente aos olhos de Gustavo. E ele ficava ali, admirando a moça do outro lado do vidro sem que ela percebesse. Sem que ela notasse seus olhos vibrando com o sorriso dela. Derrepente alguém chama por Gustavo e ele cai no seu mundo real, partindo-se dali, porém deixando seus pensamentos no mesmo corpo que Luciana, seu amor platônico.
Como poderia percebê-lo, ou levar Gustavo a sério? Os dois eram amigos, que acabaram se aventurando em beijar um ao outro sem compromisso. Luciana gostava do seu jeito, do seu companheirismo, mas nada mais que isso.
Amigos. Esse era o primeiro e unico substantivo que descrevia o relacionamento dos dois. Mas da parte de Gustavo havia mais que isso. Não conseguia dormir sem sonhar com seus lábios, seus beijos. E pensava em Luciana todos os dias, todas as horas, sem que ela soubesse da imensidão dessa paixão.
Luciana sabia que ele gostava dela. Mesmo assim arriscou tocar seus lábios e ferir o sentimento de Gustavo. Mas ao contrário do que ela pensava, não feriu, apenas fez com que aumentasse.
Era o primeiro dia de aula, e os dois se encontraram logo na entrada da faculdade. Ela falava sem sequer parar para respirar, e ele ouvia seus relatos, suas histórias, suas aventuras durante as férias. ia olhando dentros dos olhos de Luciana e concretizando cada cena de sua história na sua mente. Buscava cheiros e cores, ouvia sons, na melodia da voz de Lucana enquanto contava suas férias. Mas ela não percebeu que ele estava cabisbaixo, e seus sorriso era bastante forçado no canto dos lábios.
Respirou fundo abriu a porta da sala de aula e parou de falar.
_Por que você se calou derrepente?  - Perguntou Gustavo meio sem jeito
_Onde está todo mundo? Luciana olhou em volta e percebeu que a sala além de estar com as luzes apagadas estava vazia. O cheiro de volta às aulas impregnava a sala de aula vazia. Olhou através da vidraça como se procurasse respostas de para onde seus colegas de turma e o professor estavam agora. Conferiu o horário e lá estava escrito exatamente a sala e bloco onde seria sua primeira aula do semestre.  Abaixou o papel de sua visão e continuou olhando pela vidraça observando a neblina se desfazendo de frente pra lua lá fora. Ventava um pouco, e por estar nublado  só podia contar com a luz da lua cheia, já que essa estava encoberta pelas nuvens.
_Termina - Insistiu Gustavo, para que Luciana terminasse sua história
_Você não está pretando atenção! Luciana reclamou enquanto se virou para sair da sala e procurar a turma. Gustavo segurou seu braço e puxou Luciana para perto de si. Dava pra sentir e ouvir a respiração da moça. Seu olhar assutado não impediu que Gustavo continuasse
_Presto... Presto mais atenção que você imagina...
E tocou sua pele, com a boca a boca de Luciana.

5 de junho de 2009

Amores Platônicos V - Sob os olhos de Nina

Este é mais um conto da série, Amores Platônicos, sendo que este é uma continuação fictícia do conto III
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Acordou com a penumbra do quarto. Os raios do sol pintando o quarto com listras alaranjadas, do nascer. Apertou seus olhos tentando reconhecer o lugar onde estava. Tentou levantar a cabeça do travesseiro mas sentiu uma pontada nessa hora, como se estivesse com ressaca. Forçou um pouco e percebeu Gabriel , sentado ao lado da cama, adormecido, com a cabeça deitada no colchão. Ficou ali olhando o amigo. Parecia que estava sorrindo. Ficou apreciando Gabriel, enquanto tudo ia vindo na mente, um batalhão de imagens, vozes e sentimentos. Se levantou da cama e viu seu reflexo no espelho. Sua pele, antes pano branco-porcelana, agora estivera borrada, com a maquiagem chorada. Seu sorriso, antes admirando o fiel amigo agora se desfazia, em um ar de tristeza e fragilidade.
Nina estava só. Não conseguia lembrar como tudo acontecera, mas se lembrava do que mais a deixa infeliz: Sua briga na noite anterior com seu namorado.
Inevitável. Uma lágrima desceu sua face sem que percebesse. Nina agora observava o quarto do amigo. Cada detalhe, talvez antes nunca houvera percebido sequer a cor das paredes, sequer os porta-retratos que enfeitavam seu armário, com fotos dela e do amigo. Realmente, Gabriel era um grande amigo, sempre ouvia suas queixas, dividia com ela felicidade e tristeza, amigo pra toda hora mesmo. Isso atraía ela. Como não gostar? Como não gostar de Gabriel? Gabriel.. Realmente um anjo na sua vida. Sempre sorrindo discretamente, e observando Nina. Ela fingia que não via, mas ele estava sempre ali observando, olhando e guiando ela.
Um dia percebeu que ele se intimidava quando contava dos seus relacionamento a ele. E depois foi percebendo Gabriel, seu jeito, sua compreensão, seu companheirismo. Tudo que ela precisava. Ela sabia que Gabriel gostava dela, mas não sabia que o gostar de Gabriel não era como o dela.
Abriu a torneira e deixou a água fria correr pelas suas mãos. O frio cortava-lhe a pele, enquanto ela tirava a aliança de prata no dedo anelar da mão direita. Tirou e ficou observando a gravação das iniciais. Pôs o anel cuidadosamente em cima do mármore frio e em um gesto rápido e súbito, Nina jogou um pouco de água no rosto, limpando todo o choro chorado na noite anterior e toda a tristeza depositada na sua alma. Quando foi pegar o anel de volta, em um descuido este cai no chão. E abaixando para pegá-lo, algo no lixo lhe chama atenção. Era um papel amassado onde ela só conseguia ler o próprio nome.
Seu rosto foi se desfazendo em surpresa enquanto lia cada linha do que parecia uma carta, uma carta escrita para ela, porém que nunca houvera sido entregue. Se sentou na cadeira da escrivaninha do quarto e antes que terminasse de ler observou outra folhas do mesmo papel dentro do livro em cima do móvel.
Nina foi lendo e descobrindo Gabriel, descobrindo seu Amor Platônico por ela.
Chegou perto dele e ficou olhando sua face, desenhando na sua memória enquanto procurava resposta para como surgira aquele sentimento no amigo. Nina tocou sua pele, roçando e sentindo o gosto salgado dos lábios de Gabriel.

27 de maio de 2009

Miniconto: Que vontade de tomar Coca-Cola


Não estava quente, nem nem ela estava com calor. Mas não sabia como explicar como essa vontade lhe consumia. Podia sentir o gosto na boca. Fez seu pedido e em menos de um minuto ali estava. Um copo com três cubos de gelo, e duas rodelas de limão e uma lata de 350ml. A latinha vermelha até suava de tão gelada.
Colocou na boca, e sentiu o azedinho do suco de limão ao mesmo tempo em que as bolhinhas de gás estourava na boca, fazendo seus olhos se encherem de água.
_Que vontade de toma Coca-Cola! - Isso foi o que ela disse naquela mesma tarde.

19 de maio de 2009

Psicodélia


E ela beija o beijo sem tocar nos lábios, e delira-se no gosto da saliva molhada, geme gemidos sussurrados e deliciosos. Olha pra ele mas não enxerga a face, não enxerga seu amante vagabundo e envolvente; apenas consegue e distingue entre imagens psicodélicas seu sorriso malicioso, no canto da boca. Ele lhe arranha o rosto estragando todo aquele veludo de pele branca e macia. Morde seu pescoço, e seu colo, agressivo como alguém que a muito tempo não tinha uma fêmea nos braços. Fêmea, era assim que ela se sentia. Levantou, bêbada trançando as longas e belas pernas enquanto procurava seu echarpe de penas cor de abóbora. Enrolou no pescoço e começou uma dança sem ritmo e nem melodia, ensaiando alguns passos, querendo parecer sexy. Mas não conseguia. Não conseguia raciocinar, não conseguia pensar nas palavras que saiam da boca de Henry, aquilo tudo se misturavam ao som da guitarra tocada pelo roqueiro na tv. Eles assistiam a um show de rock do Iron Maiden pelo DVD, enquanto se embragavam. Não sabia mais distinguir o que era certo ou errado, só conseguia pensar em uma coisa: Estava diante do homem que um dia amara mais do que a si mesma. Não conseguia ao menos raciocinar o quanto estava drogada, graças a Henry que sem que ela percebesse houvera colocado algo na sua bebida.
Ana, olhava com seu olhos azuis turquesa o sofá da sala e nele Henry, sentado, e deliciando com a dança esquisita e sensual da moça. E ela começou a rir enquanto caiam lágrimas salgadas de seus olhos, e derramava vodka no peito de Henry.
E tudo foi se tornando mais colorido, uma mistura linda de cores que ela quisera guardar tudo na sua memória pra depois tentar passar pra tela... Tudo se misturando e gritando nos seus ouvidos o som da guitarra, molhado aos beijos agressivos de Henry, o gosto da vodca misturado ao suor de Henry, enquanto ela lambia seu peito másculo e moreno. Ana rodava, as cores rodavam, o som oscilava ora alto, ora mudo, e seus olhos foram se fechando, e sonhando eternamente em overdose com o seu mundo fantástico, onde não havia realidade, onde só havia Henry e Ana.

30 de abril de 2009

Amores Platônicos IV



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Se perdera no olhar dele. Olhos vibrantes e cheios de vida. Podia se ver através do reflexo. Fitava seu corpo tão sensual e envolvente. Seu jeito misterioso e ao mesmo tempo convidativo. Um sorriso malicioso no canto dos lábios, que outrora havera tocado seu corpo...
_Nina!
Acordou. De repente aquela voz grossa e macia cortou o silêncio que havia permanecido ali durante alguns segundos. Ele agora procurava seu olhar enquanto ela buscava palavras para responder. Mas não encontrava. Nina apenas sentia de novo aquele arrepio que sentia todas as vezes que estava perto dele. Ou mesmo todas as vezes que pensava nele. Era uma corrente elétrica que percorria por cada extremidade do seu corpo, uma corrente elétrica que a deixava estremecida, inquieta e ansiosa! Nina sentia a adrenalina de novo, aquele gostinho de proibido, pois por mais que quisesse se abrir com alguém sobre aquele sentimento, ela não podia. Era um sentimento que fazia com que ela mentisse, que fazia com que Nina fosse contra tudo e todos, contra os próprios princípios, só pra ter aquele corpo junto ao seu.
_Esquece! Esquece tudo lá fora, esquece o tempo, esquece o mundo! Fica comigo!- Ele insistiu novamente enquanto observava os olhos preocupados de Nina.
Era o que ela mais queria. Esquecer que existiam pessoas lá fora, esquecer que existia hora pra ela estar em casa, esquecer daquele sentimento de culpa, por ter mentido para seus pais dizendo que ia a uma boate com amigos, enquanto agora ela estava deitada na cama dele.
Não sabe ao certo como deixou situação chegar àquele ponto. Não conseguia se lembrar ao certo quando surgiu aquele sentimento, aquela paixão avassaladora que ela mesma comparava a um vício.
Para ela, ele era um vício, onde o dependente é capaz de quebrar todas as barreiras impostas pela sociedade. É capaz de mentir, de magoar as pessoas que ele mais ama, só pra ter sua droga, mesmo que apenas por só algum tempo. E quando o dependente conseguisse, ao mesmo tempo ele sabia que não podia se entregar totalmente à ela, pois no fundo ele sabe que se ele se entregar, será o seu fim, o fim dessa relação de amor e paixão.
Era assim com ela. Fazia tudo para ter aqueles lábios mordendo e beijando os seus e quando tinha, ela se segurava e trancava seus desejos resistindo a tentação, porque também no fundo ela sabia que se ela se entregasse, ia ser o fim, e quem sabe a última vez.
Ele ainda esperava a resposta dela, enquanto acariciava seu corpo. Roçava seus dedos no seu colo e pescoço descendo suavemente até a abertura da blusa. Bastou que desabotoasse um botão, para descobrir a renda preta do sutiã. Acariciava seus seio por cima da renda, tornando esse movimento mais agressivo a medida que ouvia gemidos breves e sussurrados de Nina. Sua pele branca e rosada arrepiava ao sentir os lábios molhados dele beijando seu pescoço.
Não não podia ficar com aquele homem a quem a melhor amiga amava.
Novamente, a moça viajou em seus pensamentos vendo aquela cena a um palmo de distância de seus olhos. Primeiro ela conheceu Ricardo e logo se apaixonou por seu jeito misterioso. Depois teve a revelação da amiga que o ex-namorado, que ela tanto amava e que até então morava em outra cidade – daí o motivo de nina não conhecê-lo- havia se mudado pra lá, e pior, era o novo fotógrafo ajudante de Nina na Agência de publicidade onde ela trabalhava. O mesmo rapaz que ela se apaixonara.
Tentara guardar aquilo dentro dela mas não conseguia. Então contou toda a história a amiga. Menos a parte que ela estava apaixonada.
Agora Nina tinha à frente dos olhos, outra cena: todos os amigos da faculdade apontando, julgando, cochichando a respeito da sua atitude.
_Não! Gritou Nina se levantando da cama.
A moça saiu do quarto deixando Ricardo perplexo sem entender o que acontecia, enquanto ele olhava Nina pegar as chaves do carro, abrir a porta e sair atordoada.
Nina não podia ficar com Ricardo. E ela dirigiu afogada em lágrimas tentando esquecer seu Amor Platônico.

Opinem a respeito! O que fazer nessa situação? Vcs acham que Nina fez certo em não ficar com Ricardo? Ou ela se precipitou, já que ela já mantinha um relacionamento com ale antes dessa narrativa?

16 de abril de 2009

Caramujo Africano: eles vão dominar o mundo

Acordei assustada! Olhei pelas paredes procurando aquele bichinho repugnante! Não tinha nada! Era apenas um sonho! Levantei-me para ir ao banheiro, e quando fui lavar minhas mãos me veio a cabeça:
Moro num prédio com 16 apartamentos. Sabe Deus quando foi construído esse prédio. Sabe Deus mais ainda, quando foi lavada essa caixa d' água. Com esse mundarel de chuva, lá em cima deve estar cheio de caracóis africanos, como o resto da cidade.
Parei. E fiquei vendo a um palmo de distância aquela cena. Um lugar escuro, cheio de infiltrações, a caixa d'água meio aberta, e aquele tanto de caracol africano... hr!

Arrepiei.
Fui me deitar e lembrei de quando eu morava em Ituiutaba (que tem mais caracol africano que aqui em Uberaba), e que quando eu via um, eu atravessava a rua gritava e saia correndo.
_Com coisa que o bichinho vai sair correndo atrás de vc, Jaki! Dizia uma amiga.
Tentei dormir, e aí lembrei de outro fato: havia lido no jornal, que além dessas pragas serem hemafrodita (tem os dois sexos, assim não precisam de outro bicho para se reproduzir), eles ainda botam cerca de 400 ovos por ano! Imagina só??? e aí vem o pior: Não há predador natural pra essa coisa... Nem as cobras gostam...
E pensar que trouxeram essa praga da África para substituir o caracol que faz o escargot (juro que nunca vou comer isso... imagina, vc com um garfinho de dois dentes tentando tirar uma coisa babenta de dentro da concha desse bicho???). Aí não teve aceitação do público, e os idiotas dos criadores abriram os tanques e soltaram a peste babenta... HR!
Sinceramente, não conseguia dormir. Olhava para um lado e para o outro. Me lembrava a toda hora do sonho, meu quarto cheio de Caracolis babentus... HR! e eu caçando eles, e pegando um por um (com uma luva, claro) e colocando dentro de um saquinho... HR! e depois eu gritava bem alto de raiva e eles morriam. Ai eu descobria que eles eram sensíveis ao som. E depois contava para meu pai, e ainda falava que ia ser uma boa, para extinguir de vez esses bichinhos.

Abri os olhos, olhei em volta, e vi, que eu estava no segundo andar, num prédio com um monte de outros prédio ao redor, e talvés não poderia ter caracóis ali. Talvés. Na dúvida, eu me levantei, afastei a cama da parede, e tirei uma parte do edredom que arrastava no chão.

400 ovos... por caracol...
Realmente, a probabilidade deles dominarem o mundo é mesmo muito grande!


6 de abril de 2009

Emoção


Estava feliz. Feliz e ansiosa só pela sensação de que daqui a exatas 55 horas ela estará perto das pessoas que a amam. Arrepiava, e emocionava. Uma corrente de energia passava pelas suas veias, a deixando inquieta, e pensativa. Não conseguia raciocinar, não conseguia pensar em nada, não conseguia esconder sua ânsia e seu sorriso que ia até a nuca, seus olhos cansados brilhavam. Queria gritar, queria dançar, queria sair andando, sorrindo e comemorando. Seus olhos se enchiam de lágrimas, mas ela tentava conté-las.
Finalmente, finalmente agora a voz daquelas pessoas serão audíveis não mais pelo telefone. Poderá tocá-las. Abraçá-las.

Cinco minutos atrás, e o que lhe tomava era o sentimento de medo, medo da resposta daquele homem. Mas ela tinha que fazer, tinha, não podia mais adiar. Se levantou e caminhou, cada passo como um batuque de um tambor na sua cabeça. Abriu a porta, e antes que pusesse o primeiro pé no corredor, ela parou. Se virou, e não saiu daquele lugar. Ficou olhando fixamente para o nada, para seus pensamentos...
Será que eu peço? ou eu saio as escondidas? Não seria melhor eu esperar mais um pouco? como eu falo pra ele? Balançou a cabeça, como se aquele ato fizesse com que todos as suas dúvidas lhe fugissem. Respirou fundo, e caminhou, passo-a-passo aquele interminável corredor até a última porta a direita. Bateu. Uma voz grossa que pra ela naquela hora parecia medonha soou. "Entre!"
Durante os milésimos de segundos que se passaram depois do entre e até o "Eu posso falar com vc?", milhares de dúvidas foram lhe tomando o pensamento.
"Será, que ele está nervoso com alguma coisa? será que ele esta estressado? Como será que foi o dia dele? Estaria passando por algum problema pessoal? Ou aqui mesmo? Aqui eu sei que está, mas e se isso afetar na resposta que ele vai me dar? E se ele falar: O tanto de problema que estamos passando e vc preocupada com isso? E se ele estiver mto estressado, e falar que no momento não poderia, mas eu que sei??? Eu odeio quando as pessoas falam: Você que sabe...; Vc que escolhe; A escolha é sua; Vc sabe das consequências..."
"Sim, pois não!" Mais uma vez a voz ecoava pela imensa sala, que nessa hora parecia mais imensa ainda, e gelada pelo ar condicionado ligado nos 16ºC.
Começou a falar, e sentia a respiração daquele homem, que agora parecia ter ritmos mais frequentes que antes. Começou.
" A muito tempo que não vejo..., bem, é q vc sabe que eu não sou daqui, e a passagem é mto cara.. é difícil, são 4h30 de viagem, e eu queria.., he... é que meu serviço está em dia... bem, acho que está adiantado.."
Mas não conseguia sair do lugar. Se sentiu como se fosse uma adolescente de 15 anos pedindo o pai pra ir numa festa que só vai começar às 2 horas da manhã, e que quer ir sozinha com os amigos, pq a festa é em outra cidade.
Nessa hora, ela notava que ele já sabia do que se tratava. Ele tirou os óculos e se inclinou para frente, como se estivesse compreendendo o caso. Ou seria como se estivesse pronto a dizer "Pois é, mas agora ninguém poderá se ausentar..." Poxa vida, mas era apenas um dia... um diazinho que iria faltar.. tantos outros que ela já faltara, mas todos por motivos de doença (naqueles casos que ela está quase sendo internada, pq geralmente não era uma dorzinha de dente ou de cólica que impedia ela de ir cumprir com suas obrigações).
"E é isso, eu tenho que me ausentar na quinta."Terminou. finalmente conseguiu terminar de falar.
Ele olhou, bem nos olhos dela, respirou fundo. "Olha... se vc depois repor essas horas faltas e conseguir manter td em dia..."
Nos seus lábios surgiu um sorriso! queria sair correndo e abraçar o mundo! Agora o que tomava seus pensamentos não era mais o medo de pedir dispensa da quinta feira santa ao patrão, mas era o relógio, era o tempo que não passava e que não chegava logo.
Voltou eufórica para sua sala, sorria e cantava, colocou o fone de ouvido e ficou cantando.. trabalhando e cantando um inglês que mais parecia um dialeto inventado...

Estava feliz! Finalmente, depois de 5 meses longe da família, finalmente ela iria sentir tudo de novo... tudo.. inclusive, desta vez não iria conseguir ser forte, até imaginava, quando descer do ónibus, suas lágrimas correndo a face.
O jeitinho curvado e meigo da avó, o abraço que quase punha ela no chão dos 20 mil priminhos, os beijos dos tios cavalheiros, o colo das tias corujas, a voz do afilhado chamando por ela como madinha, as novidades contadas pelos irmãos, e os pais.. ha.. os pais... estes bastavam um tok, bastava que ela sentisse a pele quente, tocando ela, abraçando, beijando, acariciando, chorando... de alegria.

30 de março de 2009

Amores Platônicos III


Beirut - Elephant Gun

Pele de pano, branca como porcelana, e macia como o veludo do pêssego. Tocava no seu rosto, e sentia, seus desejos íntimos se aguçarem e quererem sair pra fora. Olhava sua boca, rosada e suave como uma pluma, parecia sorrir, parecia sofrer. Não. Apenas dormia, adormeceu em seus braços e Gabriel não podia fazer mais nada, a não ser ficar ali apreciando Nina.
Seu cheiro se espalhava pelo quarto, e Gabriel chegou a querer que nunca saísse dali. Não queria mais nada, não precisava de mais nada, tinha Nina em seus braços, podia beijá-la a face e acariciar o corpo tão inocente e sensual.
Como deixara acontecer? Como pode deixar surgir um sentimento assim tão forte nele? Gabriel sabia, que se contasse a Nina de seus sentimentos, poderia perdê-la, por isso preferia ficar em silêncio, guardando para si, todas aquelas declarações que ensaiava durante as noites, e contentar-se com a presença, o cheiro, e o sorriso de Nina.
Passava a mão pelo corpo de Nina, sem tocá-la, e apreciava a jovem deitada na sua cama.
Não sabe como e onde tudo começou, só sabe que sempre gostou daquele jeito de menina apaixonada querendo ser mulher independente. Era tímida, não falava com muitas pessoas, mas os poucos amigos, adoravam sua presença.
Sua personalidade, alternava-se ora conselheira, ora aconselhada. E Gabriel adorava rir-se dela. Das suas dúvidas, certezas, e suspiros. E ele suspirava. A cada vez que olhava para aquela menina-mulher, ele suspirava, e longe dela, surpreendia-se pensando nela, no seu nome, no seu sorriso. Cada cena que lhe vinha a memória, acrescentava um suspiro.
Conheceu Nina na faculdade, mas a Amizade dos dois começou aos poucos, sem haver um fato importante que fizesse que os dois se aproximassem. Faziam tudo juntos: cinema, trabalhos da facul, compras para a casa de Nina, e até mesmo baladas, apesar de Gabriel não gostar muito.
O tempo foi passando, e Gabriel se sentia incomodado quando Nina vinha contar-lhe dos namorados. Mudava de assunto, sem deixar que trasparecesse que estava com ciúmes.
Começou a cobrar de si mesmo. “Pára Gabriel, você está confundindo” pensava. Mas não, não estava confundindo, apenas gostava de estar na presença de Nina, de sentir o cheiro de flor da sua pele, e ver o mundo através dos olhos dela. Gostava de contar as horas no relógio, pra chegar a hora das aulas para vê-la. Gostava de vê-la, e não dizer nada, só ouvir sua voz e rir das suas palhaçadas.
Agora ele tinha a imagem dela, adormecida em seus braços, deitada na sua cama.
Como tanto sonhara antes com essa imagem, porém sendo consequência de outros atos.

Depois de receber a ligação da amiga que estava em prantos, ele se levantou correndo e de pijama mesmo foi atrás de Nina. Encontrou a moça chorando calada num beco escuro, sentada na calçada, impercebível se quem não estivesse ali fosse Gabriel.
_ O que foi? Perguntou enquanto com o dedo indicador levantava o queixo da amiga
_ Ai Gabriel... Me abraça.. disse aos prantos.
Gabriel sentiu a pele fria de Nina, a face molhada e salgada das suas lágrimas. Olhava pra ela, tentando achar seu próprio reflexo nos seus olhos, e via o quanto era mais linda ainda com a maquiagem borrada.
Gabriel cuidou dela. Levou pra sua casa e escutou ela se queixar do namorado que havia brigado com ela enquanto andavam de carro pela cidade, se irritou e a deixou no meio da rua, vunerável, e sozinha. Gabriel, ouviu Nina, mas não podia formar uma frase sequer com as palavras que saiam dos seus lábios. Ficou ali, observando suas lágrimas, seus olhos vermelhos, sua bochecha rosada, e suas palavras jogadas até que ela caiu no sono. Gabriel ficou ali, olhando, contemplanto, amando... Nina... seu Amor Platônico.

26 de março de 2009

Amores Platônicos II



_ Fica comigo!... Seu corpo todo estremeceu com o sussurro gentil e sensual de Flávio ao seu ouvido. Seus corpos, ainda suados entrelaçados tornando todo aquele extase como se fosse de uma só pessoa. Seus lábios tremiam e sua cabeça latejava. Fechou os olhos forçando sua pupilas, como se aquele ato fizesse com que tudo aquilo a despertasse e mostrasse a ela que não passava de um sonho. Ou pesadelo.
Mas não. Preferiu sentir o corpo de Flávio dentro de si, em movimentos suaves e rítmicos, e esquecer tudo e todos. Preferiu apenas sentir o ápice do prazer que há muito tempo não sentia.
_Sabia que adoro fazer amor com você? Já não lembrava mais como é estar mergulhado no seu corpo...
Preferiu apenas sorrir. Um sorriso triste e forçado que saia do canto dos lábios. Flávio se levantara e fora ao banheiro. E agora Marina pensava em tudo... em todos, na sua família, na sua filha, e naquele amor, que até então estava adormecido.

Conhecera Flávio no auge da sua adolescência. Ele era o melhor amigo do seu irmão, e não saia da sua casa. Pra piorar ainda mais, era simplesmente adorado pelos seus pais.
_Quando Marina tiver idade, ela deve se casar com você Flávio! Adoraria ter um genro assim!
Mas ela tinha apenas 13 anos, e ele nos seus 19. O tempo foi se passando e a presença de homens na sua casa foi se tornando mais constante. Os amigos de seu irmão passaram a jogar futebol na porta da sua casa e ela ficava lá olhando, sentada na calçada, apoiando a cabeça nos cotovelos. Flávio não era o mais bonito, nem o mais másculo, pelo contrário, Não tão alto, o corpo ainda com poucos músculos, o rosto triangular e os cabelos se desfaziam em cachos negros e bagunçados. Não, não era bonito, mas era atraente. Tinha algo que chamava a atenção de qualquer mulher de qualquer idade que passasse por ele. Sua voz grossa e um olhar enigmático e convidativo. Seu jeito de andar, tudo nessa hora parecia atraente nele. E ela ficava ali, olhando.
O tempo passou e Marina se esqueceu de Flávio, arrumou um namorado aos 15 anos, porém a euforia das suas amigas ao descobrirem festas, bebidas e vários beijos em uma noite, a deixara curiosa. Terminou o namoro na noite posterior a sua primeira vez, e decidiu ser do mundo, e conhecer como ela mesmo diria os prazeres da vida.
Sua rotina de festas começava da terça-feira com um chope com os amigos, daí em diante só Deus sabe onde estaria, com quem estaria, e equem beijaria.
Chegava nas festas, e antes que entrasse na pista de dança analisava todos os possíveis gatos que ela gostaria de beijar. Se achasse algum, jogava todo seu charme e sensualidade de maneira sutil, fazendo com que o gato chegasse nela. Se não tivesse ninguém interessante, ela simplesmente dizia que não estava a fim, e dava um fora, em todos os rapazes que paqueravam ela.
Um dia, ela conheceu Renato, uma rapaz tímido e que lhe chamou atenção logo quando ela viu ele dançar. Renato dançava de um jeito que a deixava inquieta. Decidiu que gostaria de beijar sua boca. Se tornaram mais próximos, porém ele sempre dava um jeito de fugir, apesara das investidas de Marina. Cada fora de Renato fazia com que ela se irritasse ainda mais com ele, apenas pelo fato de não ter conseguido aquilo que queria. Enquanto ela dançava querendo provocar Renato, Flávio olhava de longe, a menina que conhecera ainda garoto, e como se tornara sensual e bonita.
_Nina, o Flávio está te chamando lá fora.
_Quem? Flávio? Que Flávio? Mas está chovendo! Quem será esse tal?... Marina não se lembrava mais do rapaz que um dia tanto chamava sua atenção.
Ao sair pra saber quem era, ele a surpreendeu encostando-a na parde e forçando seu copro contra o dela. Lembra de mim? Dizia enquanto cheirava agressivamente seu colo e pescoço.
-Flávio? Nossa! Mas você não tinha se mudado? Pára Flávio o que está fazendo?
Tentava se esquivar do rapaz, mas ele era mais forte, e por mais que resistisse, aquilo estava deixando perturbada.
Roçava seu corpo no dela enquanto fazia o mesmo com os lábios. Marina se rendeu aos seus beijos quando viu o olhar ciumento de Renato.
Essa foi apenas a primeira vez que Marina e Flávio se beijaram. No começo ela se dizia arrependia e que fazia aquilo apenas para deixar Renato com ciúmes, mas o tempo foi passando e a vontade de ter os beijos envolventes de Flávio ia ficando cada vez mais forte.
_Você está apaixonada, Nina... - Dizia uma de suas amigas. E como alguém no início de um vício, Marina dizia que quando quisesse, ela não ficaria mais com ele.
Mas o tempo se passou e Maria foi se envolvendo cada vez mais... Cada proposta de Flávio era irresistível, uma festa particular na casa dele, um beijo durante uma quermesse da igreja, e até mesmo pegar o carro dos pais escondido para ir se encontrar com o rapaz. Apesar das insistências, Marina não chegou a ir para a cama com ele.
_Você é virgem?
_Não! Apenas, não vou para a cama com ficantes!
Entre uma balada e outra, os dois se encontravam, às vezes ele já estava com outra garota, e ela então ignorava ele, ficando com o primeiro que lhe fizesse a proposta. Aquilo foi se tornando um mártire. Ele sempre dizia que não queria assumir compromisso sério com ninguém, e ela para se mostrar que também não estava a fim, dizia o mesmo
_Existe coisa melhor que ser solteira?
Mas não era bem assim. Marina se afastou de Fávio, procurando em outros lábios os seus beijos, em outros corpos o seu cheiro.
Já estava terminando o colégio, e então surgiu uma proposta de trabalho em uma cidade vizinha. Não pensou duas vezes. Fugiu, dos seus sentimentos, do amor da sua vida, daquela paixão avassaladora que mais fazia mal a Marina.

Três meses depois de ter se mudado, em uma visita a sua família, Marina finalmente provou o corpo de Flávio, e se deliciou nos seus prazeres. Porém no outro dia ele não ligou, nem no outro, nem no outro. “Não passava de mais um querendo apenas mais uma na sua cama”, pensava.
Pôs um ponto final na história. Voltou para sua cidade decidida a esquecer de vez aquele homem que tanto fazia mal para ela, e decidiu reconstruir sua vida.

Marina hoje era uma nova mulher, independente, cheia de si, responsável, não mais aquela menininha que observava os amigos do irmão jogando futebol na porta de casa, e muito menos aquela adolescente inconseqüente que fazia tudo para ter os beijos de Flávio.
Casou-se e da união nasceu uma linda menina. Tinha uma família perfeita: Um marido compreensivo, uma filhinha que apesar de ainda bebê, deixava sua vida cada dia mais feliz.

Mas isso que até então era inabalável, mudou a vida de Marina.
Flávio reaparecera na sua vida, e agora ela estava deitada na cama dele. Tudo apenas com um telefonema.
-Com quem eu falo por gentileza?
_Marina Ribeiro.
_Sra. Marina Ribeiro, aqui é o gerente do seu banco. Um minuto, só... Marina? Filha de Josuá? Marina é você
_Quem?
_Flávio! Seu vizinho... amigo do seu irmão...
Foi depois de uma longa conversa sobre os velhos tempos que veio a pergunta.
_Marina, naquela época, algumas pessoas comentavam algo, que pra mim, não passava d boatos... mas estou tão curioso... - A sua voz ainda continuava grossa e sexy - Você gostava de mim
Não tinha mais por que negar. Agora ela era uma mulher, e não uma garota metida a besta que trancava os sentimentos dentro de si. Marina contou como era sentir tanta paixão por uma pessoa que só queria ela para beijar, ou algo mais.

Agora ela se aventurava. Beijava, e arranhava suas costas começando de novo o que acabaram de fazer, como se ainda tivessem energia para muitas vezes.
Tinha marido, tinha uma família, e tinha um nome a zelar. E dentro de si, além do corpo de Flávio, Marina tinha um sentimento que ressurgira como se fosse um vulcão, que antes tinha estado apenas adormecido, e agora entrara novamente em erupção.
Preferia esquecer o que faria depois daquela noite, preferia não responder a proposta de Flávio de ficar com ele. Trancou os olhos, deixando cair uma gota de lágrima, e preferiu apenas sentir Flávio mais do que sentia dentro de si.
E Marina sentia. Era seu Amor Platônico.

25 de março de 2009

Amores Platônicos I

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Sorria. Enquanto contemplava a foto dela, sorria e se lembrava de todos aqueles momentos que passaram juntos na insana adolescência. Seus traços, sua forma, seu perfil, tão nítido, tão suave, tão sensual. Podia tocá-la. Mas não. Se tratava apenas de um retrato dobrado e amassado que guardava na carteira.
Começou a se lembrar daqueles tempos, as loucuras e as mentiras que viviam só pra ter o gostinho da adrenalina no sangue. E cada aventura, um registro. Uma fotografia.
Lucas, Jane e Rodrigo. Se conheceram durante o período do curso de Publicidade e Propaganda. Não chegou a ser no primeiro dia. Jane era bastante comunicativa, conversava com todos, e quem não a aconhecia, sentia-se desprezado por ela. Mas seus amigos a adoravam, seu humor era capaz de tirar qualquer pessoa da tristeza. Por traz da sua simpatia, e acima de tudo, menina-mulher. Era magra, um corpo cheio de curvas, valorizando suas pernas e seios. Olhos negros, por trás de um olhar vibrante e envolvente. Cabelos longos e negros assim como seus olhos, dando um contraste, com sua pele, rosada, de tão branca. Uma mulher de chamar atenção até mesmo das mulheres, seja por inveja ou por atração. Menina, por que seu jeito moleca, fazia com que qualquer pessoa se esquece que era tão sensual e atraente.
Conhecera Rodrigo na biblioteca da faculdade, enquanto procurava o mesmo livro que o rapaz, e que para o azar dos dois só tinha um exemplar. Os dois então combinaram de estudar juntos o livro, assim pra não parecer injusto para nenhuma parte. Se tornaram amigos e descobriram que tinham muito mais que a escolha da profissão em comum.
Rodrigo era um rapaz tímido, e dócil. Não conversava muito com a turma, mas aqueles que o conheciam sabiam que não se tratava de antipatia, mas sim de timidez mesmo. Este era mais pé no chão que Jane. Depois que viraram amigos, passou a corrigir mais a faladeira da menina e dar concelhos para ela em quem ela deve ou não confiar. Alto e magro, chamava a atenção de todas as garotas pelo seu porte atlético, e sua postura. Porém, preferia fingir que não era com ele.
Lucas só veio a ser amigo dos dois, no semestre seguinte. Era transferido de outra faculdade já que seus pais haviam morrido em um acidente e seus parentes mais próximos moravam ali em Fernandópolis. Conheceu Rodrigo e Jane em uma festa da faculdade. No começo, a um julgamento prévio não gostou daquela menina que para ele se achava: cheia de gente ao seu redor, e ela lá debochando da mania do professor de Artes. Mas no fim da sua história ele riu das graças da garota.
_ Então você gosta de debochar do tiques dos seus professores?...- disse ele, enquanto ela pegava alguma bebida no bar.
Jane se virou e se deparou com o “garoto novo” que desde que chegara era calado e quieto, não falara sequer o nome para ninguém.
_ Porque? Consegue debochar de outra coisa mais engraçada?
_ Prazer, meu nome é Lucas. Disse estendendo a mão para a garota. Jane olhou para a mão estendida, se virou e seguiu caminhando em direção a Rodrigo. Lucas seguiu ela enquanto esperava a resposta.
_ Não vai me responder? Há! Já sei! Não conversa com estranhos?
_ Jane. Meu nome é Jane. Disse em um tom arrogante.
A partir daquele momento Rodrigo e Lucas se tornaram amigos rindo das grosserias de Jane. A garota se rendeu e descobriu que os três poderiam ser grandes amigos.

Em algum dia, Jane disse que precisava ir na casa da tia no interior de Minas. Não tinha carteira de habilitação, então propôs aos amigos que a acompanhasse no carro do pai. Lucas foi de motorista, porém só na metade do caminho que os garotos descobriram que era na verdade um hotel fazenda do tio que estava de férias no Rio de Janeiro.
_Você é maluca, Jane? E ele sabe que agente está indo pra lá?- Indagou Lucas
_ H!á... o que que é? Agora vocês estão com medo? Estamos quase chegando... Eu já disse, eles estão de férias no Rio, eu tenho a chave da casa, não vão se importar se agente passar o fim de semana por lá!
Mas ainda estavam na metade do caminho quando a tempestade caiu, e fez com que o carro ficasse atolado. Foi nesse dia que Lucas observou o corpo de Jane, molhado pela chuva se esguiando para tirar o carro da lama.
Rodrigo acelerava enquanto os dois amigos empurravam o carro. Mas Lucas não conseguia tirar os olhos da camiseta molhada grudada no corpo da menina e revelando seus seios redondos e salientes por debaixo da camiseta rosada.
_ Que que é? O que tá olhando?- Jane observa que o rapaz não conseguia se concentrar nas recomendações de Rodrigo ao volante- Está com vontade de ter uns? São bonitos né?
Lucas sorriu. Nessa hora se esqueceu que estavam naquela situação, na chuva, enlameados e no meio do mato sabe Deus onde. Juntou uma porção de lama do chão e jogou na garota
_Você é muito atrevida menina! Se acha demais!
_ Não vai me dizer que você não os achou bonitos??? Provocou
Nessa hora, Rodrigo percebe que os companheiros de viagem não se empenhavam em ajudar a tirar o carro do buraco.
_ Ei! o que está havendo ai?
_ Eu estou dizendo aqui para a Jane que eu queria ter peitões iguais os dela!
Rodrigo caiu na brincadeira e ficaram implicando a menina
_Ai! Como eu queria... Posso ver! Ui!
Os dois rapazes imitavam homossexuais enquanto Jane se irritava com eles!
Foi nesse dia, a partir desse dia que a amizade passou a ser deixada em segundo plano. Lucas olhou Jane com outros olhos, e agora continuava a deliciar aquela fotografia, dos três amigos enlameados e molhados da chuva, e Jane tapando seis seios com o boné do amigo.

Dormiam os três juntos em motéis, quando tinham alguma festa fora da cidade para ir e o dinheiro não era suficiente para pagar o hotel; levavam um ao outro para hospitais quando estavam bêbados demais; amanheciam os três abraçados cantando alguma música sertaneja ou chorando porque qualquer um deles passava por alguma decepção amorosa. Experimentaram os três algumas drogas, como a maconha e o extasy. Rodrigo e Lucas tiveram que pagar fiança para Jane sair da delegacia depois de dirigir embriagada e sem carta. E no fim das contas, estavam lá, sorrindo e cantando.
Mas em algum momento, Jane conheceu em uma das festas que freqüentavam, Ricardo, que a todo custo paquerou a garota até que ela se rendeu a seus encantos.
_Eu não gosto dele. È muito galinha, Jane. Depois você vai ficar falada!
_Bobeira tua, Lucas... O cara pode até ser galinha, mas é legal.. Fora que ele é lindinho né? Olha só o olhar dele!
_Beija quem você quiser, Jane. E bobeira do Lucas!

A partir do namoro com Ricardo, que Jane passou a ficar mais distante dos amigos. Não tinha mais tempo pra sair a noite, porque ia passar o fim de semana com o namorado. Não iam mais para a fazenda do tio de Jane, porque ela tinha algum jantar com o sogro e sogra.
Rodrigo e Lucas passaram a sair sozinhos, preferiam não comentar ou reclamar nada, apenas sentavam-se em algum bar da cidade e só saiam quando estivessem bêbados. Conversavam, brincavam, mas nada mais era como antes, quando tinham Jane para alegrá-los. Um dia na faculdade Jane observou a tristeza dos amigos.
_Eu não estou tendo tempo mais pra vocês, não é mesmo? Me desculpem, mas quando se está amando, não há como não querer ficar perto da pessoa... Pode deixar, eu já sei o que fazer!
E a moça combinou o dia e hora em um bar que sempre freqüentavam juntos. Lucas sorrira, finalmente tudo ia voltar ao normal, os três juntos como nos velhos tempos. Mas ao chegar lá, Lucas viu que as coisas realmente mudaram. Jane sorria ao lado de Ricardo, enquanto Rodrigo conversava ao pé do ouvido de uma garota loura e sorridente.
_Quero que conheça uma pessoa especial, Lucas! Essa é a Graziela! Ela é a irmã do Ricardo. - Disse Jane apontando para uma moça muito bonita ao seu lado - E esta é a Joice, uma amiga nossa! Dessa vez, presentava a loura sorridente que Rodrigo quase beijava de tão perto que conversava com a moça.
Lucas, se sentou e preferiu fingir que gostara da menina. Não tinha porquê não gostar, era bonita, atraente, tinha um papo legal. Naquela mesma noite, ele a levara para a cama e descobriu que suas qualidades iam muito além da sua beleza e personalidade. Mas ficaram juntos nem por uma semana, quando Lucas assumiu que gostava de outra pessoa e decidiu terminar com Graziela. Ao contrário, Rodrigo seguiu o namoro firme, com Joice.
Quando Jane ficara sabendo de Lucas, decidiu procurar o amigo. Estava na garagem tentando concertar o motor do carro.
_ Mas Lucas porque vocês não deram certo? Não sabia que gostava de outra pessoa? Quem é essa pessoa? Eu conheço? Posso ajudar?
Lucas agora olhava dentro daqueles olhos negros. Antes que respondesse, percebeu que Jane segurava um envelope, com as iniciais J & R escritas em dourado. Nessa hora se desesperou, olhou fixamente para o envelope, e seus olhos cheios de lágrimas perguntou com voz trêmula:
_ O que... o que é isso Jane?
_ Há! Isso aqui?... Jane nem percebeu o desespero de Lucas, sorriu, mas antes que respondesse o amigo, Lucas se propôs a dizer.
_ É você Jane. Eu sou apaixonado por você!
Nessa hora, o sorriso da amiga se desfez. Cabisbaixo, Lucas começou a chorar ali mesmo na garagem da sua casa. Jane o abraçou, tentando consolar, mas o consolo virou beijo. Os dois se tocaram e se beijaram. Lucas a envolvendo como se quisesse prendê-la para todo o sempre, e esquecendo que tudo que acontecia nas suas vidas. Sentaram-se no sofá que tinha na garagem e fizeram amor ali mesmo.
Agora, estava lá, Lucas, olhando para aquela fotografia e se lembrando de tudo, de todos os momentos bons que vivera com Jane e claro, com Rodrigo.
Seu amor por Jane doía, as lembranças, o cheiro, o toque, sentia tudo isso. Mas tudo fugiu dos seu pensamentos, quando começou a tocar a música do casamento e ele sorrindo teve que entrar na igreja como o padrinho de casamento de Jane. Agora sim podia entender o significado de Amor Platônico.

19 de março de 2009

Jornalista



Acordou no meio da noite, e dessa vez não era seu filho que chorava. O telefone em cima do criado-mudo tocava desesperadamente. Quem poderia ser aquela altura da madrugada?
Não dormia direito já havia uma semana, e finalmente conseguiu as tão sonhadas férias, depois de entrar três vezes como pedido junto ao setor de RH da empresa onde trabalhava. Seu chefe, editor -chefe do jornal onde trabalhava, sempre impedia que ela se afastasse do trabalho, devido aos grandes acontecimentos que ocorriam ao redor do país: crise econômica, escândalos no Congresso, eleições presidencialistas, e ele não poderia abrir mão de uma das melhores repórteres que o jornal tinha.
Ela sempre parava e respirava fundo para cada vez que o editor pedia algo que para ela parecia impossível, ou que por outro lado poderia funcionar como uma declaração de guerra a algum político. Mas tinha que fazer, custe o que custar. Talvez era por isso que ele gostava tanto dela, e confiava tanto no trabalho que ela fazia.
Se lembrava todas as vezes que terminava de gravar uma matéria, de quando era garota e via na tevê aquele “cara” com um microfone na mão conversando com outro. Depois vinham as seqüências de cenas, que ilustravam cada palavra que o “cara”dizia. “Este é o repórter” Dizia sua mãe “Ele fica ali, conversando com aqueles outros homens para saber o que está acontecendo no mundo, no país, ou na cidade, pra contar pra gente pela televisão!” “E pra quê agente quer saber mamãe?” Mas por mais que sua mãe lhe explicasse, era pequena demais para entender. Com o passar dos anos, foi ficando mais apegada àquele programa que passava depois da novela. A menina, deixou de acompanhar com sua mãe as telenovelas, para assistir aos telejornais na tevê junto com seu pai.
Um dia, apareceu um homem na tela, logo depois que passou uma reportagem. Esse homem ficava no mesmo estúdio que os apresentadores, só que sozinho. E ele falava, e criticava, alertava, com uma voz firme e compreensiva. Falava das atitudes do presidente dos Estados Unidos. E ela concordou com tudo que ele dizia. Afinal, era seu próprio pai quem dizia que este país só queria guerras, então esse homem que agora falava na televisão, também concordava com seu pai. Foi nessa hora que ela disse ao pai “Um dia eu vou fazer isso aí, papai. Eu estar aí dentro da televisão dizendo coisas, igual esse homem”.
E aí ela sorria. Terminava de gravar sua passagem, e sorria por ter relembrado de novo esses momentos em que ela tanto queria estar “dentro da televisão”. Agora ela estava. Era uma mulher, e finalmente conseguira trabalhar em um dos maiores jornais do país, sendo uma repórter que era bem conhecida nacionalmente.
Como era bom estar com sua família, seu marido e seu único filho. Um momento raro, já que quase não tinha tempo para eles. Na maioria das vezes, quando chegava em casa, João Carlos já estava dormindo. Parecia que a babá conhecia mais o filho do que ela mesma. Mas agora estava descansando em um lugar bem longe da “muvuca” da Capital, do barulho das teclas dos computadores da redação do jornal, das câmeras... Mas no fundo, bem lá no fundo, sentia saudades. Saudades daquela loucura que só ela conhecia.
O telefone tocava. Nessa hora o marido já havia acordado e estava ligando a luz do abajur. Ela apalpou a madeira fria do criado até encontrar o telefone. “Alô?”.
“Quem era?” Perguntava o marido, vendo a esposa se levantar da cama, e começando a colocar uma roupa.
“Era o Marcos. Ele disse que o presidente levou um tiro enquanto estava de férias. E para a nossa sorte ele estava de férias aqui na ilha. Eu vou lá ver!”
Marcos era seu editor.

18 de março de 2009

Clodovil (Mini... crônica?)

O Congresso parou. Fizeram silêncio, e dessa vez não foi porque alguém queria falar, ou exclamou um comparativo daquela loucura à um mercado.
Uma voz se calou, e não foi apenas por um minuto.
De longe observa, enquanto tantos proclamam seu nome em meio a homenagens e declarações de admiração.
Sua vida agora não tão mais polêmica, não tão mais criticada, não tão mais viva...
Apenas um sonho, mas esse não há mais como acordar

10 de março de 2009

Meu primeiro brinquedo

Imagem do Google

Natal. Eu era epenas uma menininha que ainda acreditava em Papai Noel. Adorava essa época de festas de fim de ano, pois era aonde eu reencontrava todos os parentes, e sempre depois da comemoração do Ano Novo, minha tia que morava na fazenda levava eu e meu irmão para passar alguns dias com ela.

Me lembro vagamente que naquele dia, a comemoração não ia ser como o de costume na virada do dia 24 para o dia 25. Meu tio estava no hospital, e por algum outro motivo, íamos comemorar no dia 25 com um almoço.

Eu e meu irmão acordamos bem cedinho... O sol ainda estava escondido no horizonte, mas no quarto um pouco da luz dos raios solares já se infiltravam pelas frestas da janela. Para falar a verdade naquele dia mal dormimos, ansiosos por saber o que papai Noel nos felicitara.

Meu irmão esperava uma bicicleta, e eu..., bem na verdade eu queria ir na escola. Eu tinha uma vizinha que era mais velha que eu e todos os dias, depois que ela saia da escola eu ia lá para nós brincarmos de casinha de bonecas. E enquanto rolava a brincadeira ela me contava como era a escola me deixando cada vez mais ansiosa  Mas apesar de eu pedir para mamãe deixar eu estudar, ela dizia que eu era muito nova. O que era incompreensível para mim, tao pequena.

_ Aposto que o papai Noel me trouxe uma Bicicleta! Dizia meu irmão.

_ Mas aí não cabe em baixo do travesseiro, né seu bobão!

Como não tínhamos chaminés, mamãe dizia que Papai Noel deixava o presente em baixo do travesseiro ou da cama. Mas mal podíamos entender que naquele ano, a situação financeira da nossa família não permitia a tão sonhada bicicleta do “Papai Noel”.

_Vamos ver, vamos! Nos levantamos apressadamente, e olhamos cada um em baixo de seus travesseiros e de suas camas.

Rasguei o pequeno embrulho. Mal podia acreditar, era muito melhor que ir a escola! Uma caixa de lápis de cor e um caderno de desenhos! Não conseguia conter meu sorriso nos lábios, sai gritando minha mãe e descrevendo meu presente! Nessa hora nem pude perceber o que meu irmão ganhara, e agora nem me lembro também.

Mas me lembro muito bem, do rosto da minha mãe, que com um sorriso terno, e os olhos ainda entreabertos por causa do sono, me perguntou: Você gostou? E eu a abracei.

Foi com aquele mesmo sorriso que minha mãe ensinou a escrever meu nome, me ensinou as letras, o alfabeto, e despertou essa paixão que vive em mim até hoje: a paixão de escrever.

9 de fevereiro de 2009

Profissão: Filha

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Checou toalha bordada que cobria a mesa de jantar: Perfeita! Os talheres de prata que ganhara da mão em um suposto chá de cozinha: Impecáveis. Pela terceira vez conferiu o armário do imenso quarto: nada que pudesse levantar suspeitas estava a mostra. Verificou em baixo da cama, afinal era costume deixar meias e espartilhos jogados pelo chão do quarto: ótimo. Estava tudo pronto. E enquanto pensava em mais alguma coisa que poderia ter esquecido a campainha tocou.
_Nossa como você demorou! Achei que ia me deixar na mão dessa vez!
_ E alguma vez eu já fiz isso?- disse Cris, ao mesmo tempo que empurrava João, um menino de apenas 10 anos de idade.
_E ele já sabe como deve reajir?
_Acha que eu sou bobo, tia?- respondeu o moleque se mostrando mais esperto do que aparentava.
_Nossa, Luana! Você está horrível, meu bem! Até parece que não teve curso de maquilagem lá Bellahouse.
_ Ai, Cris, ultimamente não ando nem dormindo em função disso. Será que vai dar certo? Não sei porque mamãe inventou de vir me visitar justo agora...
_Olha, meu bem, o gay aqui sou eu, não me venha querer desistir justo agora...- Cris olhou no relógio como se estivesse preocupado com alguma coisa. Logo veio a confirmação- E aonde está o Bofe?
_Ai será que ele vem? Foi você que me indicou, não é possivel que ele “fure” comigo!...
Enquanto isso um carro aponta na esquina. Era Daniel, ou melhor, o Bofe.
_Eles já chegaram? Esse é o João? Ele já sabe o que fazer?
Ninguém precisou responder. Ao perceber o quanto Luana olhava firme para o táxi que aproximava, Cris despediu discretamente, entrou no carro, o mesmo que Daniel houvera vindo, e virou a primeira esquina.
João, abraçou Daniel, e abriu um sorriso instantaneamente, quando a porta do taxi se abriu. Nem Luana conseguira esconder tão bem tamanha aflição que sentira, quanto o menino.
_ Meu bebê...- Disse Maria.
Maria era mãe de Luana. Sempre amou a filha e cuidara dela como se fosse uma bonequinha de porcelana. Ela era a única filha. Descobrira uma infertilidade nos seus 20 e tantos anos, já que em 7 anos de casados não conseguia engravidar. Tentou o tratamento, mas 13 anos se passaram e já perto dos quarenta via-se uma mulher infeliz no casamento, infeliz perante os amigo, tudo porque não conseguira satisfazer-se como mãe.
Mas foi numa noite em fora passar o fim de semana na fazenda próxima a cidade, que Maria descobriu o sobrinho que havia ido visitá-los. Era um belo rapaz, olhos verdes radiantes, sua voz máscula, lábios carnudos e volumosos. Um rapaz realmente atraente. Estava fazendo trilhas pela redondeza, e a água do grupo havia acabado. “Como a fazendo de vocês é aqui perto resolvi dar uma passada”. Aquilo tudo era mais que o destino: o marido à viagem e o sobrinho Caio, apenas 15 anos mais jovem que Maria, diante de si atraente e irresistível. E naquela noite Maria teve seus prazeres saciados, por um jovem, uma aventura que fez com que ela descobrisse que na verdade não era ela que era infértil, mas sim seu marido.
Exatos nove meses depois veio Luana. Apesar dos seus 40 anos de idade, sua saúde era boa suficiente para não desenvolver nenhuma complicação durante a gravidez. E agora estava diante de sua filha, uma belíssima moça de cabelos negro ondulados, rosto triangular, lábios carnudos e olhos verdes vibrantes como o do pai. Uma herança genética que só Maria sabia de onde viera.
Luana viera para Florianópolis para cursar a tão sonhada faculdade de direito. A cidade pequena onde viviam, não tinha o curso, e a moça quis partir para enfrentar a vida sozinha na cidade grande. No começo tudo parecia fácil. Todos os meses o pai de criação mandava-lhe dinheiro para os gastos. Morava sozinha num confortável apartamento no centro da cidade, sua vida era basicamente estudos durante os dias e baladas nas noites.
Foram nessas noites que Luana conheceu a vida de drogas, cigarro, álcool e os vários prazeres que os universitários do campus podiam proporcionar. A cada fim de semana uma aventura nova, uma bebida diferente, uma droga para experimentar, uma experiência sexual com um professor mais velho, com um estudante mais novo, ou com alguém do mesmo sexo.
Essa era a vida de Luana em Floripa. Maria nada sabia a respeito, pois as notas da filha explicavam tudo, e nada tinha a questionar. A filha sempre fora exemplo, se dava bem com as pessoas e participava de quase todos os projetos da Universidade. Mas na metade do curso a vida dessas mulheres teve uma reviravolta. O marido de Maria veio a falecer, e para piorar a situação financeira, tudo que lhes deixava eram dívidas imensas.
Houve a hipótese de Luana ter que deixar o curso, mas não podia. “Mamãe, se me prometer segurar a barra lá em casa eu arrumo emprego por aqui para arcar com meus estudos”. Assim foi feito. Maria vivia do aluguel da fazenda que por sorte do destino estava em seu nome e mais a pensão do falecido marido.
Os dias tornavam-se difíceis, o dinheiro estava acabando e com a crise Mundial, firmas e mais firmas estava limpando o quadro de funcionários. Isso fazia com que a concorrência aumentasse, e que os empregos estivessem cada vez mais escassos.
Um dia num bar, entregue as bebida, uma amiga insistia para que se animasse, mas a perda do pai, deixava Luana cada vez mais adulta, e ao mesmo tempo distante daquela vida inconseqüente que levava. “Vamos, Lu, olha lá aquele gato está olhando pra você... anime-se!” Mas Luana não conseguia nem mesmo um esforço ra conhecer o tal cara.
“Ele é muito galinha, não sabe a fama dele? Vive por ai dizendo que quem ele quer, ele tem. Não vou entrar nessa lista, além disso, não estou pra ninguém hoje!” “Nem mesmo se a proposta for tentadora, disse o rapaz que estava atrás de Luana sem que ela percebesse. O rapaz tirou da carteira algumas notas de 50 reais presas por uma boracha e ofereceu olhando diretamente nos olhos da moça. No outro dia, Luana acordou nua em uma imensa cama de casal, com alguém abrindo a janela. Era Cris “Nossa, não acredito, eu emprestei a chave da casa da minha tia pra ele e ele nem me fala que vai trazer essas meninas fáceis...” Apartir daía, Cris se tornou amigo de Luana, apresentou a meninas que trabalhavam na Bellahouse, a casa de encontro da tia de Cris, e ensinou como ela poderia ganhar com o que ela faz de melhor.
_Esse é o João, o filho do Daniel do primeiro casamento- disse Luana.
Maria olhou para o menino, apertou-lhe as bochechas e sussurrou no ouvido da filha:
_Seu noivo é mesmo um gato!
Todos almoçaram juntos como a família que há muito tempo almoçava nos domingos. Só que desta vez, sem o pai, e com Daniel e João à mesa.
_Fico feliz que Daniel cuida tão bem de você, filha. E joão, é uma graça de menino... Que bom que conseguiu uma família tão bonita e unida, mesmo com um filhos postiço- disse sorrindo para o garoto- e que te adora!
Maria teve que partir. Estava em Floripa apenas para resolver alguns problemas de saúde, fazer alguns exames que só tinha na capital. Mas ainda tinha compromissos na pequena cidade onde morava no interior e teve que partir no mesmo dia.
Assim que não avistaram mais o taxi, Cris atravessou a rua. Estava do outro lado e nem perceberam. Pegou o menino e despediu-se da amiga.
Luana agora voltou-se para Daniel entregando-lhe algum dinheiro.
_Muito bem -Suspirou- Você se saiu muito bem. O genro que mamãe sempre sonhou. Pena que era tudo de mentira.
Daniel lançou um olhar malicioso sobre as curvas do corpo sensual de Luana e perguntou ao mesmo tempo que afastava a mão de Luana estendida com o dinheiro
_ Porque você não me paga por esse serviço com o que você faz de melhor?
Autor: Jaki Barbosa