27 de julho de 2010

Infidelidade

"São histórias que cruzam meu caminho que me inspiram. São rostos aflitos por gritar suas angústias, são vozes mudas, angustiadas por situações nas quais essas pessoas vivem mas preferem se calar. E de repente eu invento algo, imponho hipóteses. E o conto real se torna fictício nas minhas palavras. A história de Suelli não é fictícia. É apenas um desabafo que percebi nos olhos de alguém" - 26/07/2010


Embargados no suor daquela paixão que acabaram de fazer, num longo e delicioso gemido, Suelli contorceu todo o seu corpo voluptuoso, ao passo que Danilo apertava com suas mãos grandes a cintura dela enquanto delirava-se no ímpeto de prazer que aquela mulher acabara de lhe proporcionar.
Suelli abriu os olhos e viu aquele rapaz com um sorriso malicioso no canto dos lábios carnudos e rosados.

_Vem aqui, vem – Ele provocou a mulher que estava sentada em cima dele.

Suelli não resistiu. Imediatamente pulou para o lado do corpo nu daquele rapaz moreno, deitado na cama de motel. Danilo aconchegou a cabeça de Suelli em seu peito e ficou acariciado seus cabelos, rigorosamente aparados num corte moderno e curto. Sutilmente Suelli foi se aconchegando no colchão, apalpando ao seu redor em busca do lençol.

_O que está fazendo? - perguntou Danilo ao vê-la se cobrindo.

Sorrindo, ela baixou os olhos, como se tivesse procurando as palavras para se esclarecer. Sueli então cerrou as pupilas e acomodou novamente a cabeça no peito liso de Danilo enquanto desenhava com a ponta dos dedos suas formas formas musculares.

_Tenho vergonha do meu corpo.

Danilo olhou profundamente nos olhos daquela mulher, e respondeu:

_Você é linda! Exatamente assim!

Foi exatamente isso que fez com que Suelli se apaixonasse por aquele rapaz 17 anos mais novo que ela: seu romantismo, delicadeza e cavalheirismo. Apesar de Suelli achar que não era atraente suficiente para que um jovem de 25 anos se apaixonasse por ela, mal sabia que cada vez mais o rapaz estava envolvido naquele relacionamento que já durava exatos dois meses.

Os dois se conheceram durante uma conferência em que o marido de Suelli, Jorge, participou em Fernando de Noronha, sobre poluição marinha. Jorge era assessor jurídico e um dos acionistas de uma grande empresa de energia nuclear em Angra dos Reis e foi um dos 30 funcionários convocados para ir ao encontro.

Ignorante em todos os aspectos da sua vida, Jorge foi à conferência a contra gosto, uma vez que sempre dizia que era besteira. “Isso é coisa de ambientalistas que sempre atrapalha o sucesso da empresa”.

O casamento com Suelli já não havia começado nos melhores momentos. Tudo por causa de uma gravidez indesejável que, depois do casamento acabou resultando em uma tragédia. Sueli, após uma briga com o marido por causa de um suposto relacionamento extra-conjugal, acabou batendo o carro enquanto dirigia nervosa pela cidade. O acidente fez com que sofresse um aborto.

Com o passar do tempo Suelli acabou descobrindo que não poderia mais ter filhos e, a solidão era a única companheira, já que morava em uma cidade distante mais de 600 quilômetros da casa dos pais. Sua vida então se resumia em ficar em frente à televisão durante todo o dia. Nunca procurou fazer novas amizades em Angra dos Reis, nem mesmo era fútil suficiente para viver em shoppings no Rio de Janeiro, assim como faziam as outras esposas dos colegas de trabalho de Jorge.

Sueli era rica, tinha um esposo com um bom cargo em uma grande empresa, morava em uma mansão confortável e grande, de frente para uma das paisagens mais lindas do país. No entanto era infeliz.

Nunca teve ambição por roupas caras e nem joias. Até que no começo do relacionamento procurava se vestir com as roupas mais finas das melhores grifes e estilistas da sociedade carioca. Seu closet era composto por decotes, vestidos justos e tecidos sutilmente transparentes. Investia em si mesma, todos os dias, e em todas as festas da empresa em que acompanhava o marido. Tudo a fim de chamar a atenção de Jorge, fisgá-lo com sua sedução em potencial e fazer com que ele voltasse a se apaixonar por ela.

Mas o que Suelli não sabia era que o marido nunca a havia amado. Se casou pelas circunstâncias e sempre continuou, mesmo aos 44 anos, suas aventuras amorosas com as jovens ricas mais cobiçadas do Rio de Janeiro.

Aos poucos Suelli foi desanimando. Suas roupas provocantes tinham efeito contrário e sempre recebia um “Você está ridícula com essa roupa”. Suelli imediatamente entristecia e antes que sugerisse que se trocasse, Jorge continuava “Mas vamos. Estamos atrasados. Você demora demais para se arrumar. Mas não adianta nada... Vai ser sempre assim, a mesma Suelli, cada vez mais gorda”.

Suelli engordou. Ficava o dia todo em casa comendo alguma guloseima e aos poucos foi perdendo o gosto pela vida. Inúmeras vezes pensou em pegar o diploma de Publicitária no fundo da gaveta e voltar para Minas, onde moravam seus pais, para continuar a carreira de publicitária de onde parou quando se casou com Jorge. Mas agora considerava tarde demais. Apenas acomodou-se na situação, e foi vendo seu corpo aos poucos ganhando 15 quilos a mais desde que se casou; seus cabelos embranquecendo, e os sinais da idade aparecendo nos olhos.

Quando ficou sabendo da viagem à Fernando de Noronha, imediatamente se mostrou disposta a acompanhar o marido, alegando que seria uma distração. Mesmo com as retrucas de Jorge, Suelli seguiu viagem para a ilha.

Dentro do avião, avistou Danilo, um jovem alto e moreno usando uma calça em brim social, uma camiseta branca em gola “V”, levemente justa, denotando seu porte atlético, e para completar o visual social-esporte, um paletó cinza e sapatos esportes. Usando óculos Ray Ban, Danilo percebeu o quanto despertou os olhares de Suelli, dando um leve sorriso em certa ocasião.

Mais tarde, sentada sozinha no bar do hotel bebendo uma dose wisky enquanto Jorge estava na primeira reunião da Conferência, Suelli foi surpreendida por um “oi”, vindo de uma voz jovial. Se virou e viu o mesmo rapaz do avião parado ao lado dela, dessa vez sem os óculos de sol.

_Você está acompanhada? Posso me sentar?

Suelli encarou Danilo analisando o tom dourado de seus olhos. Acenou com a cabeça em sinal afirmativo, e ficou contornando com a ponta do dedo indicador a borda do copo de cristal em que tomava sua bebida.

Logo Suelli perdeu a timidez e pouco depois já estavam falando sobre eles mesmos. A mulher acabou ficando surpresa ao saber que o jovem, recém formado em biologia marinha, trabalhava para uma ONG em Angra dos Reis como mergulhador. Também estava ali para a conferência. Mas ao contrário do esposo, Danilo defendia a razão para o encontro, falando a respeito de pesquisas em que participava, argumentando embasado em dados e levantamentos feitos pela ONG em que trabalhava.

Toda aquela conversa deixava Suelli ainda mais fascinada, a ponto de terem perdido a noção do tempo. Durante os próximos dias, os dois se viam cada vez mais envolvidos até que no último dia naquela ilha, durante outra reunião em que Jorge participava, Danilo levou Suelli para um praia deserta, afim de mostrar a linda vista das águas claras revelando grande diversidade de peixes e outros animais marinhos. Envoltos por aquela paisagem paradisíaca, acabaram se rendendo um ao outro e fizeram amor ali mesmo, na praia.

O romance não ficou apenas na viagem. E menos de uma semana depois, já em sua casa, uma das empregadas anuncia a visita de um jovem que se identificou como Danilo. O rapaz havia pesquisado o endereço de Suelli na lista telefônica a partir do sobrenome de Jorge.

Agora, novamente estavam juntos. Se amando, enquanto Suelli recebia daquele jovem tudo o que sempre havia buscado no marido. Pensou na sua infidelidade, na parcela de culpa que tinha por ter deixado com que o casamento chegasse àquele extremo. Mas antes que se martirizasse em pensamentos, Danilo a tomou novamente nos braços, lhe beijando delicadamente, fazendo com que aqueles pensamentos se evaporassem, dando lugar aos sentimentos e sensações que, o toque, o beijo e a voz de Danilo lhe proporcionavam.