9 de fevereiro de 2009

Profissão: Filha

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Checou toalha bordada que cobria a mesa de jantar: Perfeita! Os talheres de prata que ganhara da mão em um suposto chá de cozinha: Impecáveis. Pela terceira vez conferiu o armário do imenso quarto: nada que pudesse levantar suspeitas estava a mostra. Verificou em baixo da cama, afinal era costume deixar meias e espartilhos jogados pelo chão do quarto: ótimo. Estava tudo pronto. E enquanto pensava em mais alguma coisa que poderia ter esquecido a campainha tocou.
_Nossa como você demorou! Achei que ia me deixar na mão dessa vez!
_ E alguma vez eu já fiz isso?- disse Cris, ao mesmo tempo que empurrava João, um menino de apenas 10 anos de idade.
_E ele já sabe como deve reajir?
_Acha que eu sou bobo, tia?- respondeu o moleque se mostrando mais esperto do que aparentava.
_Nossa, Luana! Você está horrível, meu bem! Até parece que não teve curso de maquilagem lá Bellahouse.
_ Ai, Cris, ultimamente não ando nem dormindo em função disso. Será que vai dar certo? Não sei porque mamãe inventou de vir me visitar justo agora...
_Olha, meu bem, o gay aqui sou eu, não me venha querer desistir justo agora...- Cris olhou no relógio como se estivesse preocupado com alguma coisa. Logo veio a confirmação- E aonde está o Bofe?
_Ai será que ele vem? Foi você que me indicou, não é possivel que ele “fure” comigo!...
Enquanto isso um carro aponta na esquina. Era Daniel, ou melhor, o Bofe.
_Eles já chegaram? Esse é o João? Ele já sabe o que fazer?
Ninguém precisou responder. Ao perceber o quanto Luana olhava firme para o táxi que aproximava, Cris despediu discretamente, entrou no carro, o mesmo que Daniel houvera vindo, e virou a primeira esquina.
João, abraçou Daniel, e abriu um sorriso instantaneamente, quando a porta do taxi se abriu. Nem Luana conseguira esconder tão bem tamanha aflição que sentira, quanto o menino.
_ Meu bebê...- Disse Maria.
Maria era mãe de Luana. Sempre amou a filha e cuidara dela como se fosse uma bonequinha de porcelana. Ela era a única filha. Descobrira uma infertilidade nos seus 20 e tantos anos, já que em 7 anos de casados não conseguia engravidar. Tentou o tratamento, mas 13 anos se passaram e já perto dos quarenta via-se uma mulher infeliz no casamento, infeliz perante os amigo, tudo porque não conseguira satisfazer-se como mãe.
Mas foi numa noite em fora passar o fim de semana na fazenda próxima a cidade, que Maria descobriu o sobrinho que havia ido visitá-los. Era um belo rapaz, olhos verdes radiantes, sua voz máscula, lábios carnudos e volumosos. Um rapaz realmente atraente. Estava fazendo trilhas pela redondeza, e a água do grupo havia acabado. “Como a fazendo de vocês é aqui perto resolvi dar uma passada”. Aquilo tudo era mais que o destino: o marido à viagem e o sobrinho Caio, apenas 15 anos mais jovem que Maria, diante de si atraente e irresistível. E naquela noite Maria teve seus prazeres saciados, por um jovem, uma aventura que fez com que ela descobrisse que na verdade não era ela que era infértil, mas sim seu marido.
Exatos nove meses depois veio Luana. Apesar dos seus 40 anos de idade, sua saúde era boa suficiente para não desenvolver nenhuma complicação durante a gravidez. E agora estava diante de sua filha, uma belíssima moça de cabelos negro ondulados, rosto triangular, lábios carnudos e olhos verdes vibrantes como o do pai. Uma herança genética que só Maria sabia de onde viera.
Luana viera para Florianópolis para cursar a tão sonhada faculdade de direito. A cidade pequena onde viviam, não tinha o curso, e a moça quis partir para enfrentar a vida sozinha na cidade grande. No começo tudo parecia fácil. Todos os meses o pai de criação mandava-lhe dinheiro para os gastos. Morava sozinha num confortável apartamento no centro da cidade, sua vida era basicamente estudos durante os dias e baladas nas noites.
Foram nessas noites que Luana conheceu a vida de drogas, cigarro, álcool e os vários prazeres que os universitários do campus podiam proporcionar. A cada fim de semana uma aventura nova, uma bebida diferente, uma droga para experimentar, uma experiência sexual com um professor mais velho, com um estudante mais novo, ou com alguém do mesmo sexo.
Essa era a vida de Luana em Floripa. Maria nada sabia a respeito, pois as notas da filha explicavam tudo, e nada tinha a questionar. A filha sempre fora exemplo, se dava bem com as pessoas e participava de quase todos os projetos da Universidade. Mas na metade do curso a vida dessas mulheres teve uma reviravolta. O marido de Maria veio a falecer, e para piorar a situação financeira, tudo que lhes deixava eram dívidas imensas.
Houve a hipótese de Luana ter que deixar o curso, mas não podia. “Mamãe, se me prometer segurar a barra lá em casa eu arrumo emprego por aqui para arcar com meus estudos”. Assim foi feito. Maria vivia do aluguel da fazenda que por sorte do destino estava em seu nome e mais a pensão do falecido marido.
Os dias tornavam-se difíceis, o dinheiro estava acabando e com a crise Mundial, firmas e mais firmas estava limpando o quadro de funcionários. Isso fazia com que a concorrência aumentasse, e que os empregos estivessem cada vez mais escassos.
Um dia num bar, entregue as bebida, uma amiga insistia para que se animasse, mas a perda do pai, deixava Luana cada vez mais adulta, e ao mesmo tempo distante daquela vida inconseqüente que levava. “Vamos, Lu, olha lá aquele gato está olhando pra você... anime-se!” Mas Luana não conseguia nem mesmo um esforço ra conhecer o tal cara.
“Ele é muito galinha, não sabe a fama dele? Vive por ai dizendo que quem ele quer, ele tem. Não vou entrar nessa lista, além disso, não estou pra ninguém hoje!” “Nem mesmo se a proposta for tentadora, disse o rapaz que estava atrás de Luana sem que ela percebesse. O rapaz tirou da carteira algumas notas de 50 reais presas por uma boracha e ofereceu olhando diretamente nos olhos da moça. No outro dia, Luana acordou nua em uma imensa cama de casal, com alguém abrindo a janela. Era Cris “Nossa, não acredito, eu emprestei a chave da casa da minha tia pra ele e ele nem me fala que vai trazer essas meninas fáceis...” Apartir daía, Cris se tornou amigo de Luana, apresentou a meninas que trabalhavam na Bellahouse, a casa de encontro da tia de Cris, e ensinou como ela poderia ganhar com o que ela faz de melhor.
_Esse é o João, o filho do Daniel do primeiro casamento- disse Luana.
Maria olhou para o menino, apertou-lhe as bochechas e sussurrou no ouvido da filha:
_Seu noivo é mesmo um gato!
Todos almoçaram juntos como a família que há muito tempo almoçava nos domingos. Só que desta vez, sem o pai, e com Daniel e João à mesa.
_Fico feliz que Daniel cuida tão bem de você, filha. E joão, é uma graça de menino... Que bom que conseguiu uma família tão bonita e unida, mesmo com um filhos postiço- disse sorrindo para o garoto- e que te adora!
Maria teve que partir. Estava em Floripa apenas para resolver alguns problemas de saúde, fazer alguns exames que só tinha na capital. Mas ainda tinha compromissos na pequena cidade onde morava no interior e teve que partir no mesmo dia.
Assim que não avistaram mais o taxi, Cris atravessou a rua. Estava do outro lado e nem perceberam. Pegou o menino e despediu-se da amiga.
Luana agora voltou-se para Daniel entregando-lhe algum dinheiro.
_Muito bem -Suspirou- Você se saiu muito bem. O genro que mamãe sempre sonhou. Pena que era tudo de mentira.
Daniel lançou um olhar malicioso sobre as curvas do corpo sensual de Luana e perguntou ao mesmo tempo que afastava a mão de Luana estendida com o dinheiro
_ Porque você não me paga por esse serviço com o que você faz de melhor?
Autor: Jaki Barbosa