5 de junho de 2009

Amores Platônicos V - Sob os olhos de Nina

Este é mais um conto da série, Amores Platônicos, sendo que este é uma continuação fictícia do conto III
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Acordou com a penumbra do quarto. Os raios do sol pintando o quarto com listras alaranjadas, do nascer. Apertou seus olhos tentando reconhecer o lugar onde estava. Tentou levantar a cabeça do travesseiro mas sentiu uma pontada nessa hora, como se estivesse com ressaca. Forçou um pouco e percebeu Gabriel , sentado ao lado da cama, adormecido, com a cabeça deitada no colchão. Ficou ali olhando o amigo. Parecia que estava sorrindo. Ficou apreciando Gabriel, enquanto tudo ia vindo na mente, um batalhão de imagens, vozes e sentimentos. Se levantou da cama e viu seu reflexo no espelho. Sua pele, antes pano branco-porcelana, agora estivera borrada, com a maquiagem chorada. Seu sorriso, antes admirando o fiel amigo agora se desfazia, em um ar de tristeza e fragilidade.
Nina estava só. Não conseguia lembrar como tudo acontecera, mas se lembrava do que mais a deixa infeliz: Sua briga na noite anterior com seu namorado.
Inevitável. Uma lágrima desceu sua face sem que percebesse. Nina agora observava o quarto do amigo. Cada detalhe, talvez antes nunca houvera percebido sequer a cor das paredes, sequer os porta-retratos que enfeitavam seu armário, com fotos dela e do amigo. Realmente, Gabriel era um grande amigo, sempre ouvia suas queixas, dividia com ela felicidade e tristeza, amigo pra toda hora mesmo. Isso atraía ela. Como não gostar? Como não gostar de Gabriel? Gabriel.. Realmente um anjo na sua vida. Sempre sorrindo discretamente, e observando Nina. Ela fingia que não via, mas ele estava sempre ali observando, olhando e guiando ela.
Um dia percebeu que ele se intimidava quando contava dos seus relacionamento a ele. E depois foi percebendo Gabriel, seu jeito, sua compreensão, seu companheirismo. Tudo que ela precisava. Ela sabia que Gabriel gostava dela, mas não sabia que o gostar de Gabriel não era como o dela.
Abriu a torneira e deixou a água fria correr pelas suas mãos. O frio cortava-lhe a pele, enquanto ela tirava a aliança de prata no dedo anelar da mão direita. Tirou e ficou observando a gravação das iniciais. Pôs o anel cuidadosamente em cima do mármore frio e em um gesto rápido e súbito, Nina jogou um pouco de água no rosto, limpando todo o choro chorado na noite anterior e toda a tristeza depositada na sua alma. Quando foi pegar o anel de volta, em um descuido este cai no chão. E abaixando para pegá-lo, algo no lixo lhe chama atenção. Era um papel amassado onde ela só conseguia ler o próprio nome.
Seu rosto foi se desfazendo em surpresa enquanto lia cada linha do que parecia uma carta, uma carta escrita para ela, porém que nunca houvera sido entregue. Se sentou na cadeira da escrivaninha do quarto e antes que terminasse de ler observou outra folhas do mesmo papel dentro do livro em cima do móvel.
Nina foi lendo e descobrindo Gabriel, descobrindo seu Amor Platônico por ela.
Chegou perto dele e ficou olhando sua face, desenhando na sua memória enquanto procurava resposta para como surgira aquele sentimento no amigo. Nina tocou sua pele, roçando e sentindo o gosto salgado dos lábios de Gabriel.