30 de junho de 2010

30 Segundos

Ficaram ali, parados, se olhando por algum tempo. Pessoas passavam ao redor deles, em passos rápidos, atrasados com algum compromisso, preocupados com suas próprias vidas. E o que para essas pessoas que também transitavam por ali não passava de segundos, para ele e para ela foi tempo suficiente para que passasse um filme na cabeça dos dois.

Carros correndo freneticamente pelas avenidas, motoristas imprudentes ultrapassado o sinal vermelho, buzinas revelando a impaciência com aqueles pedestres que insistiam em atravessar a rua entre as filas de carros. E para Clara e João não passavam de pessoas, alheias à história dos dois, mas que por algum motivo, naquele momento passavam por ali, no cruzamento daquelas avenidas, como se estivessem em câmera lenta.

Todo aquele barulho de motores e pessoas conversando ao mesmo tempo não era audível aos dois. Se olhavam. Ficaram ali, parados na calçada daquela esquina apenas olhando um nos olhos do outro, tentando descobrir tantas coisas que agora os lábios não conseguiam pronunciar.

Ao celular, a mãe de Clara escutava a respiração serena da filha e repetia sem sucesso o “Alô”, ao perceber que a filha de repente se calara. Clara, por sua vez, não ouvia, mas também continuou segurando o celular próximo à face.

João, com as mãos no bolso e fones no ouvido, deixou sem que percebesse que seus olhos se enchessem d'água, contradizendo o sorriso sutil no canto dos lábios.

Retratos dos momentos juntos, agora ganhavam vida na mente do ex-casal. O primeiro olhar, o primeiro beijo, a primeira transa... O  primeiro “eu te amo”. Risos, lágrimas, brigas, reconciliações.

Amor.

Agora perguntavam-se se conseguiriam esquecer todos esses retratos. Perguntavam-se se já não amavam mais um ao outro. Se o que sentiam era amor. Se algum dia seriam felizes, longe um do outro.

Os olhos de Clara se voltavam para o chão enquanto agora o rapaz se perguntava se ela já havia esquecido ele, se já amava outra pessoa.

Levou a mão que estava no bolso direito do seu jeans a fim de tocar a face rosada e quente de Clara. Mas antes que o fizesse, foi surpreendido pela pronuncia do próprio nome na voz de uma mulher, precedido pelo barulho estorvedante de um trovão.

_João! Entra no carro! Vai chover.

Buzinas, pessoas, motores e o barulho da chuva. Tudo voltou ao normal enquanto João, sem olhar para trás, entrou no carro parado na esquina. Tudo voltou ao normal, menos a vida de João e Clara. Essa, que continuava parada naquele cruzamento sem se preocupar com a chuva fina que lavava seu rosto. Chuva que caiu após 30 segundos desde que os dois se reencontraram naquele dia nublado, naquele cruzamento.