4 de maio de 2010

Perfume

Entorpece, delira e distrai.

Esse era o efeito do perfume de Gustavo sobre o corpo de Luana. Seu chefe, quase trinta anos mais velho, causava-lhe uma imensidão de sensações, impossíveis de ela mesma descrever. Sua alma estremecia, querendo extravasar aquele movimento ao limite do físico e, por um instante, poderia ir além de seu corpo. Uma única corrente elétrica de tamanha intensidade percorria no interior de seu corpo, dos pés à cabeça, provocando uma imensidão de fantasias que não passavam de pensamentos. Buscava seu olhar, e penetrava sua pupilas negras bem no fundo daqueles olhos quase que cerrados, característica de Gustavo que atraía ainda mais a atenção de Luana.

A quilômetros de distância Luana poderia sentir aquele perfume que tanto a incomodava, que tanto aguçava sua fome de prazer e de beijo na boca. Era o seu cheiro característico que fazia com que a moça, sempre que passasse em frente uma perfumaria, ela entrasse e vasculhasse cada frasco a fim de descobrir aquela fragrância, apenas com o intuito de continuar seu delírio, se entorpecer e embriagar no perfume, concretizando em pensamentos fantasias mais inacessíveis em realidade.

Sorria. Sorria, enquanto caminhava pelas ruas e, ainda que seus pensamentos perambulassem outras preocupações, suavemente aquele perfume característico ia surgindo, penetrando suas narinas, arrancando-lhe um sorriso enquanto imaginava que, dali a pouco, Gustavo poderia ter passado por aquele lugar.

Sorria, novamente. Agora balançando a cabeça negando aquele pensamento impulsivo de que apenas Gustavo era dono daquele cheiro. E era. Antes que suspirasse a fim de que esses pensamentos sucumbissem no ar, Luana ouviu a voz grave de Gustavo. Falou alguma coisa que a moça não compreendia. Talvez um "você por aqui" ou, "está passeando?". Ela preferia apenas balançar a cabeça e continuar penetrando seu olhar nos olhos dele, por trás da lente dos óculos de grau.

Forjando uma linguagem corporal, fingia atenção ao assunto, enquanto se inclinava e apoiava o queixo sobre os cotovelos magros. Hora ou outra balançava a cabeça ou falava algo que não dava segmento à conversa. Em certo momento, sua tática ficou a mercê de ser descoberta. Um vacilo e Luana se perdeu novamente em seus pensamentos na imensidão negra dos olhos de Gustavo. Sua conversa foi interrompida pelo tropeço nas próprias palavras. Tudo sumiu e se perdeu. E num gesto nervoso balançou a cabeça rapidamente como se aquilo fizesse com que suas fantasias desaparecessem e no lugar voltasse habitar as palavras que dariam continuidade ao assunto.

Ele se virou e foi embora. Talvez não sabendo ou - o que aumentava ainda mais aquela tortura - tendo conhecimento da dimensão de sensações que sua presença provocava em Luana. Andava, caminhando lentamente aos olhos da garota, num balançar que podia perfeitamente compor um ritmo. Sem olhar para trás, com a cabeça levemente inclinada para cima, ressaltando ainda mais sua segurança em si mesmo, Gustavo se foi. Com um sorriso sutil que para Luana passava de malicioso, bem no canto dos lábios.

Sim, ele sabia. Tinha noção do que era capaz de provocar com cada movimento ao alcance dos olhos da garota.

Mas foi embora. No seu estilo indiferente, com as mãos no bolso, Gustavo foi embora. Luana, seguiu seu caminho, também fingindo indiferença. Tentando mergulhar na imensidão de seus problemas ou atividades, para que se desligasse que seja por algum momento daquele homem que tanto a atraia.