- Então tchau...,
disse forçando sorriso.
Ele retribuiu apenas
com um beijo rápido em seus lábios trêmulos e gélidos. Débora
tremia nessa hora como em tantas vezes que acontecia quando pensava
em Marco.
Antes que se fosse, ele
esfregou rapidamente suas mãos nos braços de Débora, a fim de
aquecê-la.
- Está com frio?
Ela sorriu outra vez.
Abaixou a cabeça esquivando-se dos olhos verdes cor de cachoeira de
Marco. Preferiu apenas acenar com a cabeça em sinal negativo.
Não, ela não estava
com frio, Marco. Mas sim, cada centímetro do seu corpo tremia e
arrepiava, cada vez que ouvia sua voz, que tocava, mesmo que
ingenuamente, sua pele. Cada vez que respirava o seu cheiro, era como
se estivesse tomando um choque que provocava uma energia quase que
incontrolável em todo seu corpo. Sentia que precisava gritar, com
todas as suas forças; que precisava esmurrar uma parede, como se
quisesse sentir dor; que precisava sentir as fincadas das gotas de
uma chuva forte e gelada. Precisava extravasar todo aquele
sentimento.
Um único sentimento, tão contraditório. Fazia com que também sentisse uma calmaria
melancólica, sugando-lhe todas as suas forças. E nessa hora, quando
ele apenas dizia oi, ela se esquecia da mulher decidida e forte que
era, e tornava-se, como num passe de mágica, um poço de
fragilidade. Mistura de sensações, que fazia com que sofresse e
tivesse vontade de chorar ao passo que comemorava feliz aquele
simples oi.
Sofria. Débora sofria
toda essa imensidão de sentimentos, os quais não sabia definir. Ou
pelo menos preferia não defini-los. Sofria porque tinha medo do que
ainda não havia acontecido. Sofria porque tinha medo de sofrer.
E então preferiu se
calar. Naquela hora, enquanto Marco sumia em meio a multidão de
passageiros do portão de embarque daquele aeroporto. Não falou
daqueles sentimentos os quais ela mesma não gostava de dar nome.
Calou-se ali, naquela hora, como em tantos outros encontros
ocasionais com Marco. Calou-se, por que não sabia se o veria
novamente, se o beijaria novamente, porque não combinaram. Nunca
combinaram. E ele continuou não sabendo dos sentimentos daquela
garota que, para ele, significava algo casual.
E ela continuou ali,
parada, com aquele sorriso estático. Com seu corpo gritando trêmulo,
inebriando-se no cheiro de Marco impregnado na sua roupa. Delirando
nos olhos de cachoeira de Marco, guardados na sua memória.