13 de julho de 2012

Olhos de Cachoeira


- Então tchau..., disse forçando sorriso.
Ele retribuiu apenas com um beijo rápido em seus lábios trêmulos e gélidos. Débora tremia nessa hora como em tantas vezes que acontecia quando pensava em Marco.
Antes que se fosse, ele esfregou rapidamente suas mãos nos braços de Débora, a fim de aquecê-la.
- Está com frio?
Ela sorriu outra vez. Abaixou a cabeça esquivando-se dos olhos verdes cor de cachoeira de Marco. Preferiu apenas acenar com a cabeça em sinal negativo.
Não, ela não estava com frio, Marco. Mas sim, cada centímetro do seu corpo tremia e arrepiava, cada vez que ouvia sua voz, que tocava, mesmo que ingenuamente, sua pele. Cada vez que respirava o seu cheiro, era como se estivesse tomando um choque que provocava uma energia quase que incontrolável em todo seu corpo. Sentia que precisava gritar, com todas as suas forças; que precisava esmurrar uma parede, como se quisesse sentir dor; que precisava sentir as fincadas das gotas de uma chuva forte e gelada. Precisava extravasar todo aquele sentimento.
Um único sentimento, tão contraditório. Fazia com que também sentisse uma calmaria melancólica, sugando-lhe todas as suas forças. E nessa hora, quando ele apenas dizia oi, ela se esquecia da mulher decidida e forte que era, e tornava-se, como num passe de mágica, um poço de fragilidade. Mistura de sensações, que fazia com que sofresse e tivesse vontade de chorar ao passo que comemorava feliz aquele simples oi.
Sofria. Débora sofria toda essa imensidão de sentimentos, os quais não sabia definir. Ou pelo menos preferia não defini-los. Sofria porque tinha medo do que ainda não havia acontecido. Sofria porque tinha medo de sofrer.
E então preferiu se calar. Naquela hora, enquanto Marco sumia em meio a multidão de passageiros do portão de embarque daquele aeroporto. Não falou daqueles sentimentos os quais ela mesma não gostava de dar nome. Calou-se ali, naquela hora, como em tantos outros encontros ocasionais com Marco. Calou-se, por que não sabia se o veria novamente, se o beijaria novamente, porque não combinaram. Nunca combinaram. E ele continuou não sabendo dos sentimentos daquela garota que, para ele, significava algo casual. 
E ela continuou ali, parada, com aquele sorriso estático. Com seu corpo gritando trêmulo, inebriando-se no cheiro de Marco impregnado na sua roupa. Delirando nos olhos de cachoeira de Marco, guardados na sua memória.