9 de novembro de 2011

Marcela


_Tem certeza que não quer dar um trago? - Perguntou ela com a voz fraca enquanto prendia a fumaça.
Rafaela preferiu apenas acenar levemente com a cabeça em sinal negativo enquanto seus lábios soltaram um sorriso discreto sem que percebesse.

Ficou ali, sem roupa, na cama com os braços cruzados por debaixo da cabeça, observando a garota tragando aquele cigarro como quem aprecia a melhor das delícias. "Seu corpo era uma delícia", pensou. Um pouco magra a ponto de deixar a mostra os ossos da coluna levemente corcunda naquela posição em que estava sentada. Seus cabelos louros, na altura dos ombros, bagunçados a ponto de encobrir parte da sua face. Logo abaixo dos seios, uma tatuagem desbotada de flor vermelha, que cobria toda a costela até a cintura. A lingerie preta contrastava com a sua pele queimada de sol, que agora arrepiava enquanto Rafaela roçava a ponta de seus dedos na panturrilha de Marcela.

Definitivamente ela era diferente de qualquer outra pessoa que Rafaela já tivera ficado. Marcela, 23 anos. Era só isso que sabia dela. Não tinha seu sobrenome, de onde vinha e porque aquela garota estava naquela festa dos amigos da faculdade. Nunca a tinha visto. E foi ela quem chamou sua atenção em meio a tantas garotas, dançando sozinha e sem ritmo agarrada a um copo de pinga.

Enquanto as outras garotas da festa estavam vestidas com micro-vestidos de griffe, cabelos lisos artificialmente e impecavelmente maquiadas, Marcela usava botas texanas um pouco empoeiradas, bermuda jeans e um colete que imitava couro por cima da camiseta encardida com o símbolo da banda ACDC. Estava linda, dançando e errando a letra da música; despercebida por todos ali na festa.

Menos por Rafa que, assim que a viu, ficou fascinada com a beleza natural e espontânea dela.
Agora estava ali, em delírio, se apaixonando por alguma coisa engraçada e sem nexo que ela dizia. Só quis interromper seu riso com outro beijo molhado, que levaria o casal de volta pra cama.

Porque Marcela não quis dar o telefone, nem endereço, nem qualquer outra informação que pudesse tornar possível um novo encontro, dessa vez, previsível. E Rafaela só quis aproveitar mais um pouquinho de Marcela, sem passado nem futuro, mas excitante.

13 de julho de 2011

Alois Alzheimer


De repente o sentimento de medo e angústia se desvairou no ar. A pele fina e manchada de suas mãos transpiraram levemente no impulso nervoso de calmaria da lembrança quase morta. Quase morta, uma vez que seus olhos vibrantes e arregalados fitaram as rugas daquele homem a 5 centímetros de seu rosto, penetrando, por fim, sua íris azul-desbotado.

O sentimento de calmaria durou no balanço de imagens guardadas na memória. Eram retratos antigos do romance de quando jovem. A lembrança de amor durou o tempo em que seus lábios estiveram aquecidos pelo beijo de Rafael.

E depois se esqueceu.