21 de novembro de 2017

Eu não sou peito

Não só peito.
Eu não sou bunda,
Não sou sexo,
Nem vagabunda.
Meu nome não é delícia,
Não sou seu tesão,
Nem seu gozo,
Prazeroso
Nem só paixão.
Não sou de comer
Só isso, não!
Eu sou mulher,
Sou empreendedora,
Sou culta,
Sou politizada.
Sou trabalhadora,
Sou chefe
Sou diplomada.
Eu sou mãe,
Eu sou a voz exasperada,
Eu sou o pai que vc não é
Eu sou chefe de família,
Sou empoderada!
Eu sou a luta diária
Contra seu machismo velado
Que acha (coitado!)
Que eu sou apenas um corpo pelado.

12 de novembro de 2017

Crônica sobre o amor

Dobrei a esquina, sendo arrastada por meu cachorro. Era um domingo fresco e úmido de novembro, e eu estava voltando do meu passeio de pôr-do-sol com Jimi Hendrix, um poodle custoso.
Ao que me aproximo da minha casa, em Ituiutaba, percebo minha mãe saindo pelo portão. Seu sorriso largo no rosto logo aponta para o motivo daquela alegria estampada nos olhos. Era Paulo Arthur, um garotinho de 9 anos, que o coração da minha mãe adotou. 
Ele saiu todo serelepe segurando uma sacola em uma mão e, na outra, uma bexiga branca. Ele fazia alguma graça que arrancou um "sorrisão" dos lábios da minha mãe. Daqueles que ela deixa a cabeça cair levemente para trás e aperta os olhos. Acho que foi um dos sorrisos mais lindos que já vi em mamãe.
Me lembro da primeira vez que vi Paulo Arthur. Ele devia ter uns 4 anos. Garotinho tímido, branquinho do cabelo bem preto e liso. Ele vestia uma calça jeans, uma camiseta com alguma estampa de super-herói e uma camisa xadrez em vermelho e preto por cima. Tudo isso em menos de um metro de altura. Quando vi ele logo tentei uma aproximação. "Oi! Eu sou a Jaki! Quantos anos você tem?"; mas ele abaixou os olhinhos pequenos e escondeu atrás do balcão da cozinha.
Naquela época, há uns cinco anos atrás, a mãe do Paulo Arthur namorava meu irmão. Aqueles almoços de domingo na minha casa, com uma criança correndo pra lá e pra cá e trazendo alegria a cada cantinho do coração de todos os habitantes dali, fez com que toda a família se apegasse à sua doçura de criança logo no começo.
Eu, que na época ainda morava em Uberaba, percebia pelo telefone, quando falava com minha mãe, o tanto que a presença daquele menininho na minha casa fazia diferença. Aquele tempo de tristeza e preocupação por conta de uma depressão que atingira a minha mãe e deixava apertado o coração de todos, de repente foi se dissipando e dando lugar a alegria que aquela criança trouxe à nossa casa.
Ainda naquele ano, Paulo Arthur foi matriculado na escola onde minha mãe trabalhava. O contato dos dois aumentou ainda mais, uma vez que passavam mais tempos juntos.
Logo, com o passar do tempo, ela ouvira, talvez a palavra que tanto antes já tinha vontade de ouvir: Vó! Vó, sim vó! e porque não, vó? Porque ele não é neto de sangue dela? Mas e o amor de neto e amor de vó, que existe ali entre os dois e que traz tanta alegria para aquela criança? E o tanto de sorriso que tomou o lugar da tristeza da minha mãe, e o amor de vó que ajudou ela a superar uma depressão? Sim! Vó!
Nesse meio tempo, entretido com seu mundo de criança, meu irmão e a mãe de Paulo Arthur decidiram seguir caminhos distintos. Mas o amor de vó, ahh... eu acho que deve ser tipo amor de mãe. Que não morre nunca! E por que separar vó e neto?
Aproximei-me deles com meu cachorro me arrastando pela coleira. Eu sorria e ria muito daquela cena. Eu sorria do sorriso da minha mãe, segurando o Paulo Arthur pela cabeça, encostada na barriga dela, enquanto penteava cuidadosamente o cabelo pretinho e molhado do menino e falava alguma coisa com ele.
Sabe? Aquele penteado caraterístico de vó: partido de lado e grudado junto à cabeça. Paulo Arthur por sua vez, balançava a bexiga enquanto sorria com os olhos negros arregalados por trás de uma óculos parecido com o da minha mãe, e balançava a cabeça em sinal afirmativo. Sua mãe estava estacionada na rua. Havia vindo buscá-lo. Essa cena acontecia quase todos os finais de semana, quando ele passava com a gente aqui em casa.
Eu fiquei ali, paralisada e extasiada enquanto escutava alguma música no fone de ouvido que embalava aquela cena. Ele então pegou o capacete e foi logo colocando na cabeça. "Ué! Você não vai dar um beijo na sua vó?"; tirei o fone do ouvido e falei enquanto minha mãe colocou as mãos na cintura e abriu um sorriso desafiador em direção a ele. Ele logo tirou o capacete, bagunçando todo o cabelo que minha mãe acabara de pentear e dependurou no pescoço dela com bexiga e sacola nas mãos. "Tchau, vó!". "Tchau, meu amor!".
Ele subiu na moto, acenou com um sorriso tímido e foi. Minha mãe ficou ali, acenando. E eu aqui, com a maior certeza de que o amor que existe entre os dois é o mais puro, que alegra, que cura e que traz sorrisos ao coração dos dois. E que inquestionavelmente o amor que existe entre aqueles dois, é amor de vó e neto. Amor de vó e neto.
Jaki Barbosa - 12/11/2017

20 de agosto de 2017

Poema de domingo


Enquanto as amélias trabalham
tirando a louça do almoço dominical,
repousa na sala
em sua poltrona patriarcal
o macho alfa viril
Assistindo o futebol.

À noite, cala-se, mulher!
Que o macho no seu ronco cansado
não pode ser incomodado
com suas coisas fúteis!

14 de julho de 2017

Nasce, pé de flor


Tabebuia Alba
Pintando o cerrado
verde amarelado

espalhando lembrança
em flor
de amor
de cor desbotada.

Breu branco
da paz aqui dentro
no pensamento
branco demais
Ipê.
Saudade de você,
em rosa e lilás.

Pata de vaca
forrando o terreiro
soprando ligeiro
o inverno de julho.
Sem gosto
Agosto
um ano senti.

Vento perfumado
de setembro primavera
de flor amarela
Pé de Sibipiruna.
Nasceu!
e junto, também eu

2017

11 de julho de 2017

Sistema

Acorda, trabalha
oito horas ou mais.
Será que você não é capaz?
Você não pode ser fraca.
Dinheiro, muito dinheiro
pra comprar bens materiais!
Melhor se você tiver mais
Um carro, um apartamento com sacada.
Roupas, sapatos
Tenha guarda-roupa lotado
Um tênis da Nike irado
mesmo que custe todo o seu mês.
Estude, esforce,
sem estudo você não é nada
Mantenha-se alienada
Nesse Sistema, seja ao menos diplomada.
Compre, consuma
Você é o que você tem
Se você não tem, você não é ninguém
Só uma proletária revoltada.
Não viva, sobreviva
Com essa merreca de dinheiro suado
Agradeça a deus por não estar desempregada
Mas se tiver, conforme-se, deus sabe o que faz.

6 de julho de 2017

[Soneto] Muda

Sua casa, seu corpo, seu lar
Muda de lugar
O pensamento
Aí dentro.
Muda o motivo dessa ruga
Muda de música
O sentimento
Seu centro.

Muda você
Move a vida
Corre o sonho
Novo sentido do Ser
Senta, projeta
Livre! do amor enfadonho.

31 de março de 2017

[Soneto] Jimi


E quando tudo parece pesado
A saudade entala no peito
O coração dilacerado
Vem você com esse seu jeito.

Me traz seu melhor presente
Seu brinquedinho favorito
Eu sei que você sente
Essas coisas que acontecem comigo

Me ama com um certo carinho
Se tô triste, sentindo sozinha
Me lambe, como um beijinho

As estrelinhas dos seus olhinhos
no meio dessa imensidão escura
Eu (só)riso com seu carinho.

1 de março de 2017

Latitude longitude


Procurei um pedaço de mim
Em todo canto por onde andei
E não achei.
Mas no fundo eu sei
Onde foi que me perdi.

26 de fevereiro de 2017

Monólogo


Me solta
Me prende

Me muda de lugar.

Diz quem eu sou
Inventa uma identidade.
Me busca
Me assusta
Eu tô nos seus sonhos.
Muda meu cabelo
Me desnuda e me recomponho.
Sou sua
Sou nua
Esse é meu riso
O mesmo de sempre
(Não existe pra sempre)
No seu inconsciente.
Me toca
Descubra
Não precisa me mascarar
Quero ser quem?
Me come
Vem me decifrar.

20 de fevereiro de 2017