1 de abril de 2010

Sorriso

_Nada!
Foi essa a reposta que ela deu, quando Gabriel indagou em que estava pensando. Realmente, podia parecer estranho ou impossível. E era exatamente isso que ele questionava “É impossível não pensar em nada!”, mas ela conseguia. Ou pelo menos tentava não pensar na sua vida lá fora.

Seu olhar estava distante, como se tivesse olhando para o vento, mas na verdade ela olhava pra dentro de si mesmo. Tentava distinguir aquele turbilhão de sentimentos, tentava sentir e desfrutar de cada um deles. Não queria e não sabia entender aquilo tudo. Preferiu apenas sentir o momento, esquecer de tudo e gozar de cada arrepio, frio na espinha, e batida do coração.

Rendeu-se ao momento, e ficou ali na cama, deitada no ombro dele e brincando com cada pelo do seu peito. Alisava e percorria com os dedos, desenhando as linhas do seu corpo na sua mente, como se aquilo fizesse com que ela nunca mais esquecesse aqueles traços. Apesar de estarem ouvindo apenas o barulho da chuva bater no vidro da janela lá fora, era como se estivessem se declarando uma para o outro. Declarando toda a emoção dentro deles, apenas com o olhar.

Em algum momento falaram sobre alguma coisa. Mas, mesmo que naquela hora ela tentara prestar atenção no assunto, mais tarde, quando estava acompanhada apenas da solidão de seus pensamentos, por mais que se esforçasse, não conseguia lembrar do que falavam. Ainda continuava olhando para o nada e sorrindo. Se via, juntamente com ele, suados em uma cama.

Agora estava longe do rapaz, mas ainda assim continuava sentindo ele. A água morna do chuveiro caia sobre sua pele e ela ia espalhando a pouca espuma que fez com o sabonete pelo ombro, sem prestar atenção naquele ato. Quis continuar sentindo o cheiro já distante dele na sua pele. E foi espalhando a água pelo corpo em gesto de carinho, se descobrindo e se sentindo como há muito tempo não se sentia: mulher.

Não quis saber o que era aquilo. Lembrou-se do quanto sempre foi feliz quando deixou de se preocupar com o futuro e viveu intensamente o presente. E esse era seu maior defeito, tentava decifrar o futuro, traçar planos demais pra tudo que lhe acontecia ao redor e dentro de si.

E decidiu que não ia pensar em um nome para aquele sentimento, só que ia viver e sentir-lo ao máximo enquanto pudesse. E assim continuar sorrindo enquanto se distraia com o nada.

(18/11/2009)