8 de março de 2010

Domingo

Odiava domingos. Foi esse o primeiro pensamento que preencheu sua cabeça naquele que seria um longo dia. O sol penetrava pelas frestas da janela, balançando, no ritmo da brisa, a cortina azul cetim que a mãe pusera ali da última vez em que esteve na sua casa, há mais ou menos dois meses.

O ar quente, com cheiro de churrasco, o levou a crer que em algum lugar ali perto alguém preparava um típico almoço de domingo, com toda família. Podia sentir o cheiro de carvão queimado, misturado ao de tempero de carne, como se fosse no quintal da própria casa. Via a cena dentro da cabeça, à um palmo de distância da imaginação: amigos, bebidas, mulheres. Todos dançando, rindo, sorrindo, se divertindo da vida, do álcool. Era a mesma cena que houvera acontecido na noite anterior. Sorriu. E agradeceu por ter aqueles amigos que participavam da sua felicidade.

Tentou levantar a cabeça, ainda com os olhos cerrados por causa da luminosidade. Ressaca. Deixou-se cair novamente no travesseiro, como se naquela hora fosse impossível sustentar o peso do seu próprio corpo. Tentou mais uma vez e, agora, no embalo dos passos longos e embriagados, chegou até a pia do banheiro.

_ Minha nossa! Como estou com olheiras! - Pensou.

Ali, refletido no pedaço de espelho, tinha a imagem de um homem, com pouco mais de 30 anos, barba cerrada, com uma boa expressão tanto nos olhos, quanto no seu rosto, sem desenhos da idade.
Por um minuto, ficou pensando, em tudo que lhe acontecera nos últimos meses. Nas festas, nas mulheres, nos amigos, nos domingos. Malditos domingos.
Estava feliz?

Se diversão fosse felicidade, sim, Thiago estava feliz. Mas ainda assim, odiava domingos.
Como de costume, ainda tentou. Ligou o notebook, em cima do sofá, conectou à internet, copo de cerveja gelada e começou sua saga. Ninguém online.

Algumas respostas do e-mail enviado no dia anterior. Todas, as mesmas: algum compromisso com a namorada, o sogro, o cunhado, a mãe, o pai e, até a sogra!

"Viagem à cidade para rever a família". "Almoço de domingo com os pais dela". "Domingo é dia da comida na casa da vovó hahaha". Era inúmeras as respostas.
Já era de se esperar.

Vasculhou a agenda do celular, tentou alguns números e... “Já tínhamos combinado um pique-nique romântico, a dois, à tarde... Mas se quiser, pode participar”. Não. Não gostava de segurar vela, ainda mais para a irmã e o cunhado que moravam em uma cidade vizinha.

Voltou pra cama. Quis dormir. Quis esquecer da solidão. Que o restante da sua família estava à quilômetros dali. Quis não pensar naquilo que aparecia na sua cabeça, apenas nos domingos. Lembranças, de um dia que quem estava do outro lado da tela ou da linha, era ele.

Quis apagar o domingo do calendário. Chorou, e acabou dormindo... Até acordar com o corpo preguiçoso. Pra levantar, lavar o rosto, tomar uma cerveja, pensar, e cair no sono de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por comentar! Visite sempre o Breguetes!