19 de abril de 2020

Eu te amo, meu bem

Lia acordou com dor e com os gemidos do marido. Ele penetrava ela insistentemente. Ela sentia dor e pedia que parasse. Mas ele insistiu. “Qual é meu bem? Vamos ficar nessa  briga até quando?”, sussurrava. Sua voz soava rouca e serena. Respirava no pescoço de Lia e roçava seus lábios na sua nuca. Por baixo dos lençóis, ele segurava com força a coxa dela, apertando contra os próprios quadris.

“Eu te amo, meu bem! Você entende isso? Vamos esquecer essa história e vamos viver nosso amor! Nossa história é linda! Já passamos por tantos problemas juntos e superamos! Não vamos jogar nossa história no lixo por causa dessa besteira, está bem?”, dizia em meio a um e outro gemido. Mas Lia sentia dor. Quanto mais ele falava, mais doía.


“Eu não quero”. Ela virou a cabeça e fechou os olhos enquanto empurrava ele delicadamente. “Eu não quero, Fernando. Eu também te amo, meu amor. Mas, por favor, mê dê um tempo para esquecer isso tudo”, disse em tom de pesar.


“Você é muito fresca! Depois eu não resisto à tentação e você acha ruim!”, disse empurrando Lia. A jovem bateu com a cabeça na parede fria e úmida da infiltração. Ficou ali, imóvel, encolhida na cama por alguns minutos sentindo aquela dor do desprezo de Fernando.


Deixou escorrer alguma lágrima que logo tratou de enxugar. “Por que era tão burra?”, pensava. “Olha onde você está, garota! Você não precisa disso”, era a própria voz socando seu estômago.


Olhou ao redor. O quarto tinha chão de madeira velha, algumas tábuas estavam fora do lugar e o barulho do trânsito insistia lá fora. Já passava das 6 horas e as nuvens apagavam o sol nascente daquela manhã cinzenta de outono. Na cama, Fernando já estava novamente roncando. Descoberto, suas calças ainda estavam abaixadas, com o membro pra fora.


Na noite anterior, Lia finalmente criara coragem de colocar o marido contra a parede. Tinha quase certeza da traição dele e essa era a deixa para que se livrasse daquele relacionamento sem sentir culpa de tê-lo deixado.


 O namoro começou no último ano da faculdade. Ele era o mais inteligente e bonito da turma de Engenharia Civil. Lia e as outras três únicas meninas do curso eram amigas e, cada vez que Fernando passava, elas suspiravam. Mas ele nunca havia reparado na garota. Até que um dia, durante o intervalo da aula, ele brincou ao saber que ela seria sua concorrente para uma vaga de estágio em uma grande empresa de construção civil que havia na cidade. “Fica tranquila Lia! Pode deixar que, quando eu conseguir essa vaga, eu peço que te contratem pra fazer estágio de servir cafezinho lá no escritório”. A menina sorriu. Seu rosto ficara vermelho. Era o garoto mais bonito da faculdade puxando assunto com ela. Os dois passaram no teste e conseguiram vaga de estágio na empresa. A proximidade fez com que ficassem cada vez mais íntimos.


Três anos depois, decidiram que o casamento poderia ser a melhor solução para salvar o relacionamento do casal, já desgastado pelas brigas e crises de ciúmes.


Agora, o que mais consumia a jovem esposa era a tristeza da descoberta de que Fernando tinha conversas íntimas pelo Facebook com a estagiária do trabalho, Bianca. “Isso não é certo, Lia. Acha que é certo? E se fosse ele no seu lugar? E se fosse você que estivesse fazendo isso com outro homem? Será que ele não se incomodaria?”, perguntava a si mesma. Mas ela não poderia ter certeza que a traição se consumara. Afinal, os fatos eram apenas as conversas pelo Facebook. “Pode ser que Fernando nem sequer tivesse tocado em Bianca”, confortava-se.


Por outro lado, ela culpava-se. Depois que abandonou a gerência da construtora para se dedicar a cuidar do filho recém-nascido, Fernando trabalhava dobrado para arcar com as despesas de casa sozinho. Chegava sempre cansado do trabalho, fazia hora extra quase todos os dias e o que encontrava em casa? Lia vestida com uma camiseta suja de leite que saia dos próprios seios. O jantar nunca estava pronto e o bebê estava sempre chorando. “Devia me arrumar mais. Deixar a casa mais organizada. Ele chega cansado e o que encontra é essa bagunça, o bebê gritando. Isso deve ser bastante estressante. Desse jeito eu vou perdê-lo”, pensava.


Até que chegou o dia que aconteceu: Fernando passava as noites acordado no computador tendo conversas íntimas com Bianca.


“Estou profundamente chateada com você, Fernando”, disse. Mas o marido continuou imóvel diante do noticiário que assistia na TV. “Ei, você me ouviu?”


“O que foi dessa vez, Lia?”, virou-se para ela.


“O que foi? Eu que pergunto! Há quanto tempo você tem um caso com a Bianca?”


“O que? Como assim? De onde você tirou essa história? Quem te disse isso?”, ele levantou-se e aproximou-se da esposa. Seus olhos arregalados refletiam a raiva contida nos punhos cerrados.


“Acontece que hoje, quando abri seu computador, tinha uma mensagem dela e quando fui ver, percebi que você troca mensagens íntimas com ela todas as noites”.


“E por que você estava mexendo no meu computador?”


“Isso não vem ao caso. Agora, seu caso com a Bianca sim!”, confrontou.


“Você está maluca, Lia? Sabe que eu jamais trairia você!”, se aproximou da esposa e a abraçou.


Lia chorou nos ombros de Fernando. “Ei! Olha aqui pra mim… Temos uma história juntos! Temos um filho… Acha que eu trocaria você por essa vadiazinha?”, disse Fernando com um olhar terno e um leve sorriso.


“Não sei...”, Lia falou entre soluços. Nessa hora, abraçou o marido com todas as forças. “Me diz, então… me explica que conversa foi aquela”, disse.


“Ah! Ando muito estressado com o trabalho e sempre que chego em casa, a gente briga. A Bianca vive dando trela e me chamando no Facebook… Em uma dessas noites em que brigamos eu havia bebido um pouco de whisky depois que você foi dormir… pra relaxar, sabe? E acabei respondendo ela no chat. A conversa foi me envolvendo... Você sabe, eu sou homem! Ela ligou a câmera e estava praticamente nua e... Ah!”, deu um profundo suspiro e continuou, “Foi isso! Me desculpa, ok?”


Mas Lia não parava de chorar. Estava encurvada, escondendo no seio a vergonha que sentia do próprio marido. Para ela, parte daquilo tudo era culpa dela, que não se preocupava mais com Fernando, deixando o relacionamento monótono e sem tesão. Não fazia mais os jantares românticos e nem preocupava em seduzi-lo depois que o filho nascera.


“Não acredito que você vai desistir da nossa família por causa dessa vadia!”, disse o marido em tom de revolta. As lágrimas escorriam daqueles olhos que fitavam profundamente os olhos azuis de Fernando. O rapaz segurou o rosto vermelho e quente da esposa, afastou alguns fios de cabelo grudados na sua face e lhe disse: “Acha mesmo que eu trairia você? Aquela menina é podre! Ela que vive me provocando! Eu fico no meu canto, eu resisto! Ela que é uma vadia que fica dando em cima de homem casado! Ela nunca estará a sua altura, meu bem! Em primeiro lugar, a nossa família”, segurou o queixo dela com o dedo indicador e continuou, “Eu te amo, meu bem! Acredita em mim?”, ela balançou a cabeça em sinal afirmativo e o abraçou como se nunca mais quisesse soltar.

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